Projecto controverso
O projecto Elaboração da História da Luta de Libertação dos Países Africanos de Língua Portuguesa-PALOP poderá não ser, à partida, pacífico de todo, tendo em conta como cada um dos cinco países encara a respectivo processo político e histórico, isto é, da luta de libertação aos dias de hoje.
Em Angola, o país financiador, só muito recentemente o MPLA passou a admitir a importância de outros movimentos de libertação (FNLA e UNITA, nomeadamente) na luta pela independência, da mesma que em Moçambique a FRELIMO tem sido muito ciosa em relação aos seus adversários do passado. Toda e qualquer investigação que fuja da “verdade histórica” desses dois movimentos, partidos no governo desde 1975, no geral, costumam ser alvo de acesa controvérsia.
Cabo Verde e Guiné-Bissau, que chegariam à independência sob a égide do PAIGC, é o que se sabe também. Ainda assim, mais do que Angola ou Moçambique, um vasto caminho já foi percorrido desde que em 1984 Luís Cabral publicou “Crónica da libertação”, livro onde conta a história desse partido, segundo o que viu e viveu, com várias omissões pelo meio.
Na mesma senda pode-se apontar os dois livros de Aristides Pereira, “O meu testemunho”, de 2003, ou “Minha vida, nossa história”, de 2012, feito com o autor destas linhas. Como também as “memórias” ou “testemunhos” de Pedro Martins, Jorge Querido, Onésimo Silveira, entre outros combatentes da liberdade da pátria.
Ainda relativamente a Angola há a destacar o vasto ambicioso trabalho “Os trilhos da independência”, assumido corajosamente por Paulo Lara (filho de Lúcio Lara, histórico do MPLA) que, primeira vez, ouvindo os mais variados actores acabou por legar a Angola e outros países um trabalho de inegável valor. (General, Paulo Lara morreu, em Março passado, aos 65 anos).
No caso do projecto História da Luta de Libertação dos Países Africanos de Língua Portuguesa-PALOP este surge como sendo problemático, à partida, sobretudo quando apresentado como algo que visa “repor a verdade histórica, a qual vem sendo deliberadamente adulterada nos últimos tempos, na tentativa de branqueamento do que foi o doloroso domínio colonial”. “Que verdade histórica”, pergunta-se, num mundo e num tempo em que existe não um, mas vários olhares sobre o mesmo objecto histórico.