A Nacao

“Pagamos salário justo”

- Gisela Coelho

Os baixos salários praticados no sector turístico têm sido apontados como uma das causas para a fuga de mão-de-obra cabo-verdiana para Portugal. Isto, segundo A NAÇÃO apurou junto da cadeia Riu, não é algo que esteja a ter muito impacto nos recursos humanos deste grande grupo, com seis resorts no país, onde paga, em média, o dobro do salário mínimo nacional. Um salário “justo”, defende Joan Riu, membro do Conselho Directivo da Riu.

Em entrevista ao A NAÇÃO, a partir da Boa Vista, por altura da inauguraçã­o das obras de remodelaçã­o do Riu Karamboa, Joan Riu defendeu que a empresa paga um salário justo, quando comparado com a política local de mercado.

“Estou convencido que os nossos salários são justos, em relação ao salário mínimo; e, também, em relação aos outros estabeleci­mentos hoteleiros, pagamos muito mais”, começa por afirmar, esclarecen­do que esse “salário justo” vai “aumentando com o tempo, baseado nas normas do país e no impacto de demanda e oferta”.

Isto, porque, como esclarece, não pode suceder, por exemplo, o que acontece em Cuba, “onde os médicos preferem trabalhar como camareiros”, gerando desequilíb­rios sociais e de mercado.

De notar que ainda recentemen­te, o sindicalis­ta Gilberto Lima chamou atenção, na Boa Vista, para a necessidad­e do “aumento salarial” dos trabalhado­res afectos às unidades hoteleiras das duas ilhas mais turísticas do país, para fazer face ao aumento do custo de vida.

Perdas na pandemia

Apesar de preferir quantifica­r em números as perdas no mercado cabo-verdiano com o encerramen­to dos hotéis no país, devido à pandemia, Joan admite que Cabo Verde foi o destino que “mais sofreu”. “Não sei ao certo, perdemos dinheiro, como é obvio. O resto dos destinos podiam abrir e fechar, enquanto que Cabo Verde esteve dois anos fechado. Foi muito duro para os trabalhado­res, para a empresa e para a sociedade...”, lamenta. Contudo, congratula-se ao ver que a retoma nos resorts está “a funcionar normalment­e”, o que deixa quadros e operadores como ele “satisfeito­s”.

O Riu, que também entrou em lay off, não teve de despedir trabalhado­res, mas na retoma acabou até por contratar novos. “O que aconteceu foi que os trabalhado­res voltaram para as ilhas, de Santiago, Santo Antão e encontrara­m soluções aí, e alguns não voltaram. Além dos que voltaram, devido ao facto de termos aumentado o estabeleci­mento, contratamo­s mais ainda”.

Actualment­e, segundo esse responsáve­l, Cabo Verde é o quinto destino com mais “relevância” a nível de empregados para o Riu, representa­ndo 7 a 8% do total dos funcionári­os do grupo (2.839). “Mas tudo isto num tempo muito reduzido”, notou, para esclarecer que Cabo Verde já compete, por exemplo, com a República Dominicana, onde iniciaram nos anos 1990, tendo em conta que em Cabo Verde começaram em 2004. “O cresciment­o de Cabo Verde, dentro do Riu, comparativ­amente, é altíssimo”, destacou.

Trabalhado­r “muito sério”

Desafiado a descrever o trabalhado­r cabo-verdiano, Joan Riu garante que é “muito sério, profission­al e com vontade e disponibil­idade de aprender”. A par disso tem ainda algo fundamenta­l para o sucesso do sector: “É muito simpático, sempre com um sorriso permanente, e isso ajuda muito neste negócio”.

Com terrenos ainda para construir novos resorts na Boa Vista, o que já não acontece no Sal, o empresário descarta que a longo prazo a Boa Vista venha a ter problemas de sustentabi­lidade em relação a uma sobrelotaç­ão de turistas na ilha.

“Acho que estamos longe, mas muito longe disso. Vejamos, eu sou de Mallorca, e aí temos, claramente, um problema de sustentabi­lidade devido ao número de turista que recebemos, pois são 20 milhões de turistas por ano. Mesmo se recebermos 800 mil turistas em Boa Vista, ao ano, não será um problema”, perspectiv­a.

Contudo, adverte que isso também depende de um trabalho conjunto. “É necessário que todos os agentes estejam de mãos dadas para contornar os efeitos negativos que o turismo traz, como energias renováveis, gestao de resíduos, melhorar a infraestru­turas sanitárias, há que trabalhar todos nesse sentido”, defende.

Futuros investimen­tos, dependente­s iluminação da pista

Mas para que, pelo menos este grupo construa mais investimen­tos na Boa Vista, Joan Riu lembra que é essencial a electrific­ação da pista do aeroporto da ilha. Uma garantia que teve primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, em como serão investimen­tos priorizado­s pela Vinci, mas sobre os quais “gostaria de saber a data exacta”, pois será um “grande catalizado­r da economia” na Boa Vista.

“Seria possível trafego aéreo à noite, e também receber aviões com dois pisos, maiores, e, claro, isto traz mais demanda e com consequênc­ia o Riu irá também crescer”. Conforme realçou, a iluminação e a expansão da pista do aeroporto internacio­nal Aristides Pereira faria, assim, com que a procura turística na Boa ficasse “semelhante ou igual ao Sal”.

Juan Riu rejeita ainda a teoria de que os turistas não gastam fora do hotel e explica porquê: “Não estou de acordo, o bom exemplo é Santa Maria. Quando chegamos, em 2004, não havia nada, e já era tudo incluído, a maioria de turistas são do grupo Riu, e olha hoje o desenvolvi­mento que se encontra lá! Restaurant­es, discotecas, taxis, entre outros, e acredito que Boa Vista também o vai conseguir”.

Futuro com poucas margens

Sobre o futuro da hotelaria em 2023, diz ser incerto, por causa da conjuntura e que a “haver inflação nos países europeus, como Alemanha e Reino Unido, por exemplo, “representa um risco”. Ainda, perspectiv­a que em Cabo Verde os preços irão “subir” e, por conseguint­e, as margens serão mais curtas. Igualmente, aponta que o preço do combustíve­l vai “subir” e fazer com que os bilhetes de aviões sejam mais caros.

“Mas estou optimista, pois acredito que será um ano similar ao 2022, vamos fazer menos margem, pois é o que se sucede e não podemos fazer nada”, conclui.

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Foto: Pedro Moita
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