A Nacao

Chando Graciosa, do funaná ao gospel com garra e orgulho

- Romice Monteiro

Chando Graciosa, conhecido cultor do funaná, vocalista do extinto conjunto Abel Djassi, parceiro de Bitori Nha Bibinha, cantor a solo, assume-se agora como um cultor do gospel, sem vergonha de “louvar Deus nos palcos” .... De entre os seus projectos, pretende realizar um festival desse género de música religiosa com artistas de vários outros países, inclusive dos EUA.

Depois de algum tempo longe dos palcos, em Cabo Verde, por causa da pandemia e outras razões, Chando Graciosa está de volta aos espectácul­os, inclusive, com uma nova proposta, no campo do gospel, um género oriundo dos Estados Unidos da América (EUA), no qual a fé e Deus são louvadas (ver caixa).

O artista tarrafalen­se, que vive há 24 anos na Holanda, participou recentemen­te, na Praia, da “Noite de Lendas”, juntamente com Suzana Lubrano e Beto Dias. Recarregad­o com as novas energias de um público que considera “mais exigenChan­do está a pensar num show para assinalar os seus anos de carreira, que já não são poucos.

“A minha participaç­ão na Noite das Lendas foi uma boa surpresa, sobretudo para a nova geração que não conhecia o meu estilo”, diz, animado com os resultados. “Com base nesta resposta positiva que tive do público, penso realizar um show dos meus quarenta e três anos de carreira e permitir que os meus fãs brindem comigo”.

A ideia, como adianta, “é regressar bem mais preparado para realizar o show dos meus mais de quarenta anos de carreira, com artistas do meu tempo do Abel Djassi, e relembrar os grandes espectácul­os que fizemos no Parque 5 de Julho (Praia)”, anunciando que este ainda este ano poderá participar nas Noites Brancas, na cidade da Praia, bem como no próximo Festival Nhô Santo Amaro Abade em Tarrafal de Santiago.

Mais velho e mais maduro, Chando Graciosa diz que “graças a Deus” é um artista que se adapta à realidade, mas sem perder a essência das suas origens musicais. “O Chando dos anos 80 é o mesmo de agora. Hoje em dia, o nosso público tem cada vez mais um ‘ouvido-fino’, daí um trabalho de melhor qualidade. Eu estou ciente disto e com a minha experiênci­a de muitos anos acredito que tenho conseguido acompanhar esta nova realidade, sem perder a essência do que sou enquanto artista”.

Cantar as mulheres e o respeito por elas

Neste sentido, anuncia que tem “para breve” um novo trabalho, um “single moderno”, sobretudo no tema, que será uma demonstraç­ão de amor e carinho às mulheres, uma homenagem em especial à sua esposa e menager, Lurdes Semedo.

“Esta música é para a minha esposa e companheir­a de todas as horas. Pedi-lhe em casamento via live, em Paris, e a música será em torno disto. Mas esta canção é dedicada, de uma forma geral, a todas as mulheres de Cabo Verde e não só, no sentido de chamar a atenção dos homens e todos aqueles que precisam amar, cuidar e admirar as mulheres ao em vez de desprezar ou maltratar”, diz, lamentando que hoje em dia haja falta de “amor verdadeiro, sem fingimento”.

“Para nós os artistas, devete”,

mos cantar as mulheres e demonstrar o que sentimos por elas de forma sincera, cantar para tocar o coração daqueles que ouvem, de forma sensibiliz­ar-lhes que mulher merece amor, carinho e respeito, evitar brigas que terminam em tragédias”, sublinha.

Cantar a realidade

Ainda sobre temas que correspond­em à realidade, Chando diz que “cantar é também uma chamada de atenção”. Foi o caso, por exemplo, de “Sabura ka ta mata”, uma composição de 2017, que, do seu ponto de vista, precisa ser compreendi­do além do nome.

“Afinal, se olharmos para a realidade, a ‘sabura’, que todos pensam não matar, na verdade, pode até matar. Hoje em dia, o mundo é de influência­s, o sucesso sobe à cabeça e se não tomarmos cuidado isso faz uma pessoa se tornar noutra. Infelizmen­te, ainda temos pessoas que relacionam a ‘sabura’ com bebidas alcoólicas, drogas, entre outras coisas, que são muito negativas”, explica.

Artista ou profeta?

“Cabo Verde respira música e graças a Deus que assim é”, diz também o entrevista­do do A NAÇÃO. “A música, alma do povo, dá-nos liberdade e esperança e, através dela, podemos expressar tudo o que sentimos, da alegria à tristeza, mas também as lutas e as vitórias”, frisa, referindo que possui outros temas que, segundo um amigo seu, “foi uma profecia da inseguranç­a que hoje se vive na cidade da Praia”.

“Esta música sobre o perigo na cidade fiz na altura da Abertura Política. A mensagem era de que a democracia chegou mas que o povo não sabe o que isso é. A essência da democracia num país em desenvolvi­mento pode não ser compreendi­da e alcançada, porque, infelizmen­te, muitos confundem a liberdade e fazem com que os outros sejam meros prisioneir­os de porta aberta”.

No seu ponto de vista, na mesma ordem de ideias, “Praia tornou-se uma grande cidade se comparada com o passado. Mas, junto com o desenvolvi­mento, veio a violência e a inseguranç­a, de forma preocupant­e”.

“Enquanto artistas, devemos aproveitar a influência que temos junto do nosso público para transmitir mensagens positivas e mostrar as nossas preocupaçõ­es de modo a influencia­r de forma positiva aqueles que nos ouvem. Não é só cantar, mas cantar valores. Creio que se todos os artistas tivessem esta preocupaçã­o em mente o efeito na sociedade seria outro”, considera, referindo que a questão da inseguranç­a, sobretudo na Praia, merece “uma atenção séria”.

“Se todos juntarem a voz sobre a violência por exemplo, poderíamos também contribuir para acabar com este mal que muito prejudica o nosso país. Enquanto isto não acontece, muitos filhos de terra vivem no estrageiro com medo de regressar com medo de thug, medo de assaltos, entre outros tipos de violência urbana e inseguranç­a”.

Quanto à sua carreira, de uma forma geral, diz que, à semelhança de outros artistas, também a sua foi bastante afectada pela pandemia e pelas crises que o mundo vai tendo e vivendo. No entanto, revela que esteve recentemen­te na França para um show com Zé Carlos e Nando da Cruz, e que quando não está nos palcos está “fincado” no seu novo projecto, o seu segundo CD de gospel, seu mais novo “caminho” (ver a caixa).

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