“Orientações metodológicas gerais”
De acordo com o ponto 2.5 sobre “Orientações metodológicas gerais”, nas páginas 21 e 22 do documento que este semanário recebeu da Direcção Geral da Educação, os materiais didáticos e metodologias incluem o próprio programa.
Isto além de um “diário de campo” ou “caderno de anotações” onde o professor “deve anotar os conteúdos, perspectivas e nuances que podem não terem sido abordados pelos conceptores do programa; o número de aulas sugeridas; as diferenças interdialetais mais discutidas; os aspectos que causaram mais impacto emocional nos alunos, etc; e como foram resolvidos na prática ou a proposta de resolução, após reflexão sobre a prática”.
Glossário
As orientações metodológicas gerais incluem ainda um “Glossário”, com a recomendação aos professores de construírem “o seu próprio glossário linguístico em língua cabo-verdiana (por exemplo, como designar uma ‘conjunção’ na sua variedade materna, evitando usar empréstimos terminológicos da língua inglesa ou portuguesa)”.
Impacto “emocional” nos alunos
Na parte “Experimentação” o documento diz que, “tratando-se de um programa experimental, deve-se sublinhar a necessidade de haver uma aplicação de todos os itens, numa perspetiva reflexiva-crítica, tendo em atenção o doseamento, o impacto emocional nos alunos, a pertinência de cada conteúdo, a sequência e os casos omissos”.
Desmistificando preconceitos da LCV
O quinto e último ponto sobre “Princípios de inclusão e descrição” recomenda que esta disciplina tenha “um princípio inclusivo e descritivo”.
Ou seja, “que todas as variedades terão visibilidade e que o intuito principal para a “promoção da compreensão interdialetal”, para “o uso da língua materna como meio e objeto de estudo, fornecendo aos alunos bases de conhecimento explícito da língua materna, no quadro da linguística” e “a introdução de conteúdos resultantes de investigação internacional, desmistificando preconceitos relativamente à língua cabo-verdiana”.
Ainda neste ponto o programa explicita que não se está a propor uma “abordagem prescritiva”, ou “um processo de padronização da língua, via escolarização, em que se escolhe uma variedade linguística como norma”.
“Nesta fase”, afirma-se, “o mais importante é a promoção da compreensão das falas de todas as ilhas por parte dos alunos, a reflexão metalinguística, a descoberta da língua, da sua história e da relação com outros crioulos de base lexical portuguesa, bem como as convergências e divergências interdialetais”.
Aulas conduzidas na variante de cada aluno
De acordo com o mesmo documento, as aulas devem ser conduzidas em língua cabo-verdiana e na variedade de cada participante, sublinhando que “tanto o professor como os alunos devem falar a variedade que melhor dominam”.
“Os exercícios de aprendizagem das outras variedades devem ser interessantes, baseados em material linguístico autêntico, recorrendo a material TIC, convidativos e sem preconceito e avaliações pejorativas”.
O mesmo documento diz que, apesar destas orientações, “os professores são autónomos no que tange à escolha de outras estratégias e metodologias”.
Compromisso de participar nos encontros
Para “assegurar uma boa organização dos conteúdos programáticos e a qualidade e a adequação da informação construída na aula”, os “professores/experimentadores” devem “assumir o compromisso de participar sistematicamente nos encontros de planificação e no reforço de capacitação com os especialistas e tutores”.
Como resultado desta experiência, recomenda-se que os alunos devam ser incentivados a participar activamente nas aulas através de “Relatos de histórias; Conversas; Discussões informais; Debates; Pesquisas individuais, aos pares e em grupo e apresentação de trabalhos; Recolha de provérbios, adivinhas, vocabulários específicos, histórias tradicionais, junto dos membros da sua comunidade de fala...”; lembrando que, nesta fase de desenvolvimento da LCV, “a sua desocultação em todos os sentidos é fundamental”.
Bibliografia, predomínio de autores de Santiago
Da lista dos livros indicados constam, entre outros, “Manual di Mudjer” de Princezito (Santiago); “Profecias de Ali Ben Tenpu” de Manuel Veiga (Santiago); “Nhára Sakedu” de Mana Guta (Santiago); “Na bóka noti (volumi – II, III e V)” de Tomé Varela (Santiago) e “Odju d’Agu” de Manuel Veiga (Santiago).
A isso acrescente-se os livros “Perkurse de sul d’ilha”, de Eutrópio Lima da Cruz (Boa Vista), “Mudjer y Mar” de Jaquelino Varela (Santiago); Letras de canções de Cordas do Sol (Santo Antão); Eugénio Tavares (Brava); “Vangêle contód d’nôs moda” de Sérgio Frusoni (São Vicente) e ainda “A poética de Sérgio Frusoni”, fora obras em crioulo de Luís Romano e Sukre d’Sal.
De referir que o presente programa é coordenado pela Direção Nacional de Educação / Serviço de Desenvolvimento Curricular. O mesmo foi elaborado pela Universidade de Cabo Verde, tendo como conceptores Dominika Swolkien, Eleutério Afonso e Maria do Céu Santos Batista, validado por Amália Melo Lopes e Ana Karina Tavares Moreira. E nele consta a data de Outubro de 2022, portanto, um mês após o arranque do ano lectivo.