EUA tentam reconquistar confiança perdida em África em favor da China
Os Estados Unidos de América (EUA) querem recuperar a sua influência em África, durante a Cimeira EUA-África, que decorre em Washington. Cerca de 50 delegações africanas, incluindo chefes de Estado e altos funcionários governamentais, participam, desde terça-feira, 13, na cimeira. Cabo Verde faz-se representar pelo primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva.
Washington, capital norte-americana, recebe esta quinta-feira, a segunda cimeira EUA-África, oito anos depois da anterior realizada pelo então presidente Barack Obama. Para os analistas internacionais, a cimeira que reúne o presidente Joe Badin e os chefes de Estado e de governo de 49 países africanos é mais uma tentativa da Casa Branca de recuperar o terreno e a influência perdida em África a favor da China.
Pequim, nos últimos trinta anos, praticamente conquistou o continente com os seus produtos, ou ajudando a construir os vários países com pesados investimentos nos mais variados domínios, em especial o das infra-estruturas. Dados da China indicam que o comércio deste país com continente atingiu o recorde de US$ 253,3 biliões no ano passado. No mesmo ano, as importações e exportações dos EUA com África foram de US$ 64,3 biliões.
Segundo a revista The Economist, 31% de todos os projectos nos sectores de estradas, barragens, caminhos de ferro, portos, aeroportos, edifícios, entre outros equipamentos, em África, foram financiados por Pequim.
Nem Cabo Verde, um aliado fiel de Pequim desde 1975, ficou de fora do radar chinês. As sedes do Parlamento e do Governo foram construídas pela China e o Palácio da Presidência da República foi recentemente remodelado também com o financiamento do “amigo asiático”. O pequeno comércio é praticamente dominado por produtos chineses.
África, parceira estratégica do EUA
Na cimeira que acontece até hoje, quinta-feira, não se vai falar de África, refere Ervin Massinga, do Gabinete de Assuntos Africanos do Departamento de Estado, “mas sim com africanos”, enquanto parceiros, sobre o futuro do continente, das respetivas sociedades e economias e do futuro do mundo.
Nesse piscar de olho, a administração Biden já mencionou um potencial envelope financeiro de 55 mil milhões de dólares para investir no continente africano nos próximos três anos, e vai apoiar a União Africana como membro permanente do G-20. Segundo a Casa Branca, o anúncio será feito na cimeira EUA-África.
A África do Sul é actualmente o único membro africano do G-20, que foi lançado na sua formação atual durante a crise financeira de 2008, como forma de reunir as principais economias mundiais.
A proposta de Biden sobre o G-20 surge na sequência do seu apoio à expansão do Conselho de Segurança da ONU, incluindo uma representação de África. Joe Biden apoia o papel diplomático da União Africana (UA) e tem procurado laços mais fortes com o actual presidente do bloco, o chefe de Estado senegalês Macky Sall.
“Não queremos que ninguém nos diga ‘não trabalhe com fulano, mas apenas connosco’. Queremos fazer negócios com todo o mundo”, disse Macky Sall, ao jornal New York Times, numa alusão às pressões que o Ocidente vem fazendo aos países que se têm virado para a China em busca de recursos financeiros e assistência técnica para resolverem os seus problemas de desenvolvimento.
O G-20 é composto pelas economias mais desenvolvidas e emergentes do mundo e representa mais de 80% do PIB mundial.
A cimeira EUA-África deve reavivar as relações dos EUA com o continente africano, suspensas pelo ex-presidente Donald Trump, num momento em que China e Rússia buscam reforçar seus laços com África.
Cabo Verde é um dos 49 países presentes na cimeira EUA-África. Faz-se representar pelo primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva. Há dois anos, aquando da assinatura do tratado SOFA (Status of Forces Agreement), a cidade da Praia declarou os EUA como sendo o seu principal aliado externo.