Jorge Carlos Fonseca – Poeta, escritor, advogado e ex-Presidente da República
1. “Safras de um triste Outono”, de Arménio Vieira (Rosa de Porcelana)
Obra poética do Prémio Camões, Arménio Vieira, que reconfirma a maturidade de um autor cimeiro da literatura cabo-verdiana. Uma poesia de cariz universalista, sofisticada na sua linguagem e nos seus processos de construção, erudita e apelativa para quem pretenda mergulhar no que à criação literária cabe trazer: a emoção, o salto imaginativo, a beleza estética, afinal de contas, os ingredientes para estarmos preparados para lidar com as vicissitudes do mundo.
2. “Pessoa. Uma biografia”, de Richard Zenith (Quetzal)
Uma obra exaustiva, penetrante e que entusiasma quem aprecia e pretende conhecer melhor a multifacetada figura do génio Pessoa. A sua escrita, a sua plúrima personalidade, os seus caminhos e desvios, as suas loucuras. Uma obra cuja leitura exige fôlego, paixão pela literatura, vontade de navegar em mundos que, por vezes, nos escapam, outras vezes, nos seduzem, mesmo que silenciosamente.
3. “Uma teoria da democracia complexa”, de Daniel Innerarity (Bertrand)
Uma abordagem necessária para compreendermos hoje o fenómeno da democracia, a sua sofisticação, os seus meandros e instrumentos. Para nos inteirarmos da sua complexidade, enquanto sistema político, regime e conjunto de crenças e instituições. Uma obra que vale a pena conhecer, sobremaneira nestes tempos de sedução e apelos a receitas autocráticas e em que uma boa parte do mundo vive sob lideranças autocráticas e ditatoriais.
Uma obra também importante para vencermos certas receitas que, mesmo entre nós, aparecem em embrulhos luminosos mas em defesa de ideário, princípios e soluções antidemocráticos, melhor, que vão de encontro ao Estado de direito (veja-se, por exemplo, o que ouvimos e lemos sobre a “guerra da Ucrânia”, eufemismo para se referir a invasão e a ocupação russas do país soberano vizinho).