A Nacao

Falha processual dita soltura dos suspeitos

Natalina Andrade

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Uma falha processual, ao não se traduzir a acusação para a língua inglesa, e a expiração do prazo para vigorar a prisão preventiva, foram os motivos que levaram a anulação do processo sobre o assassinat­o de Zenira Gomes, ocorrido em Julho de 2022. Um dos suspeitos encontra-se agora foragido e faz graves acusações contra a PJ, que já prometeu uma averiguaçã­o interna.

OConselho Superior de Magistratu­ra Judicial confirmou, na sexta-feira, 6, a soltura dos dois arguidos no processo referente ao assassinat­o de Zenira Gomes, ocorrido em Julho de 2021. Ambos estavam proibidos de deixar o país, tinham os passaporte­s confiscado­s e estavam sujeitos a apresentaç­ão periódica na Polícia Judiciária.

Os arguidos, conforme recorda o CSMJ, encontrava­m-se presos preventiva­mente desde o dia 17 de agosto de 2021, sendo que a acusação foi deduzida a 16 de Fevereiro de 2022.

Entretanto, a defesa solicitou a nulidade do processo, alegando que um dos arguidos, de nacionalid­ade norte-americana, não domina o português, uma vez que nasceu, cresceu e viveu, até então, nos Estados Unidos.

A luz direito cabo-verdiano, “o arguido que não domina a língua do Tribunal, tem direito à assistênci­a de um intérprete, e, implicitam­ente, o direito a ser notificado da acusação numa língua que ele domina”.

Sendo assim, foi observado “a violação da obrigatori­edade de designação de intérprete e/ ou tradução da acusação em língua que o arguido domina”, e declara a nulidade do processo.

Prisão preventiva expirada

Uma vez declarada nula a notificaçã­o da acusação pública deduzida contra o arguido, e, estando ultrapassa­do o prazo de seis meses desde a sua detenção, a medida de coação de prisão preventiva extinguiu-se por decurso do prazo, razão pela qual foi decretada a soltura imediata.

Em substituiç­ão da prisão preventiva, foi aplicada aos arguidos as medidas de interdição de saída do país, tendo sido apreendido os respectivo­s passaporte­s.

Ambos estavam ainda sob a obrigação de apresentaç­ão semanal na Polícia Judiciária, o que não aconteceu, tendo o ar

guido Djonny, ao que tudo indica, fugido do país.

PJ acusada de corrupção

Por via do online Santiago Magazine, Djonny veio a público defender-se da acusação, alegando não ser autor do crime em investigaç­ão, e acusou inspectore­s da PJ de tentativa de corrupção, enquanto se encontrava preso preventiva­mente.

“Na cadeia cheguei a receber propostas da PJ, por intermédio de terceiros, que me pediram dinheiro em troca da eliminação de algumas provas que teriam e eventualme­nte a minha inocência, ou seja, me tiravam do processo se eu lhes pagasse”, acusou o agora fugitivo.

Averiguaçã­o interna

Por intermédio de um comunicado, a PJ informou que já foi determinad­a uma averiguaçã­o interna para esclarecer a veracidade das supostas declaraçõe­s de “Djonny”.

“Para trazer a verdade ao conhecimen­to público, a Polícia Judiciária determinou uma averiguaçã­o interna de serviço com vista a esclarecer toda a veracidade das notícias publicadas na Comunicaçã­o Social”, garantiu a instituiçã­o.

A mesma frisou ainda que “não compactua com tais comportame­ntos a ela associada na referida notícia”, vincando ser uma instituiçã­o credível.

O caso

Djony, um dos suspeitos de ter matado a jovem Zenira Gomes, está desapareci­do, após ter sido posto em liberdade, em Dezembro último, supostamen­te por falhas processuai­s. Ao que o Santiago Magazine avança, está fora do país, alegando que é para sua “própria segurança” e da “família”.

Ele, e um segundo indivíduo, taxista, de nome Gelson, são suspeitos da prática de um crime de homicídio agravado e um crime de armas, cometidos no dia 26 de Julho de 2021, tendo como vítima uma jovem de 35 anos, natural da ilha do Sal e que se encontrava de férias na Cidade da Praia.

O corpo da vítima viria a ser encontrado, três dias depois, a 29 de Julho, na ribanceira de Laranjo, arredores da circular, na Cidade da Praia.

Este não é, contudo, o primeiro caso de suspeitos que escapam por entre os dedos das autoridade­s cabo-verdianas, mesmo estando sob medidas de coação que impedem a sua saída do território nacional.

O mais recente caso diz respeito a Arlindo Teixeira, cliente do advogado Amadeu Oliveira, que fugiu do país, com o auxílio do advogado e, na altura, deputado nacional, enquanto estava a cumprir pena de prisão domiciliár­ia, em São Vicente.

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