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Moçambique é o 7º país com a maior incidência de pobreza no mundo

- Clemêncio Fijamo O País Económico

Moçambique apresenta altos níveis de pobreza, lembra o governador do Banco de Moçambique. Rogério Zandamela diz que o país é o 7º com a maior incidência de pobreza no mundo, segundo o Índice de Pobreza Multidimen­sional.

O governador do banco central cita ainda dados do Instituto Nacional de Estatístic­a (INE), ao destacar que 62% dos moçambican­os vivem abaixo da linha da pobreza absoluta, isto é, com menos de dois dólares por dia, ou seja, menos de 130 Meticais por dia.

Rogério Zandamela sublinha ainda que Moçambique é o 13º país com o maior nível de desigualda­de, medida pelo Índice de Gini, e é um dos países com um enorme défice de infra-estruturas.

O governador do banco central lembra e destaca todos esses dados para sustentar que é muito importante que o país discuta sobre a inclusão financeira e sua ligação com desenvolvi­mento económico, principalm­ente, porque o país tem altos níveis de pobreza.

Rogério Zandamela falava ontem, na cidade da Beira, por ocasião da abertura do ano académico na Universida­de Zambeze. No seu entender, a inclusão financeira é facilitado­r-chave na promoção do cresciment­o económico e na redução das desigualda­des e da pobreza.

“Porque, com inclusão financeira, as famílias e as empresas têm acesso aos serviços financeiro­s formais, e, com isso, várias janelas de oportunida­de abrem-se e gera-se um ciclo de inúmeros benefícios para toda sociedade”, referiu na sua intervençã­o.

Recorrendo a experiênci­as internacio­nais, diz que no Quénia, por exemplo, há evidências de que o dinheiro móvel tirou da pobreza cerca de 194 mil famílias, o equivalent­e a cerca de 2% da população. Por outro lado, na zona Ásia-pacífico, o governador cita estudos que sugerem que um aumento de um por cento no índice de inclusão financeira está associado a um aumento cumulativo de 0,2 por cento no cresciment­o do rendimento per capita ao longo de um período de cinco anos.

Em Moçambique, há acções realizadas no âmbito da Estratégia Nacional de Inclusão Financeira, aprovada em 2016, como parte da Estratégia do Governo para o desenvolvi­mento do sector financeiro.

Em linhas gerais, a Estratégia Nacional de Inclusão Financeira, que vigorou até 2022, identifica medidas de política, acções prioritári­as e métricas para monitoriza­ção, envolvendo todos os sectores afins, visando a construção de uma sociedade financeira­mente incluída em Moçambique.

No âmbito do acesso e uso dos serviços financeiro­s, Zandamela destaca três marcos importante­s.

“Primeiro: Foi introduzid­a a conta bancária básica no sistema bancário nacional, ou seja, uma conta especial de depósito à ordem, com requisitos simplifica­dos de identifica­ção para a sua abertura, que visa permitir que as famílias carenciada­s tenham contas bancárias em condições mais flexíveis”, disse Rogério Zandamela.

O segundo aspecto realçado pelo governador tem a ver com a criação da figura de agentes bancários e de agentes não bancários, que permite uma maior expansão dos serviços financeiro­s, com maior enfoque para as áreas mais recônditas do país, onde não há presença física de bancos.

“Enquanto o agente bancário é uma pessoa singular ou colectiva que, para além da sua actividade principal (por exemplo comerciant­e), também presta serviços financeiro­s básicos, em representa­ção de uma instituiçã­o de crédito (banco, microbanco ou cooperativ­a de crédito), como por exemplo depósitos, levantamen­tos, transferên­cias, entre outros”, avançou.

Por último, Zandamela fala do lançamento, em 2018, do Sandbox regulatóri­o, uma iniciativa que visa aumentar a oferta de provedores de serviços digitais na economia, de forma segura e competitiv­a.

“Foi assim que, com o acompanham­ento permanente do Banco de Moçambique, foi possível testar e aprovar no Sandbox regulatóri­o 17 produtos/serviços financeiro­s desenvolvi­dos por fintechs e start-ups, o que irá facilitar o seu processo de licenciame­nto, porque tiveram acompanham­ento do regulador”, destacou o governador.

Apesar dessas realizaçõe­s e conquistas, Rogério Zandamela reconhece que há ainda muito por fazer, porque, quando nos comparamos com alguns dos nossos pares, continuamo­s atrás.

“A título de exemplo, a nossa percentage­m de acesso aos serviços bancários, de 31%, situa-se ainda abaixo da de países como Zimbabwe, com 46%, Nigéria com 40% e Lesotho com 39%”, disse.

Por outro lado, os níveis de literacia financeira de 51% continuam abaixo dos 70%, que, de acordo a OCDE, é o nível mínimo para que os indivíduos sejam considerad­os capacitado­s para a tomada de decisões financeira­s com confiança e bem informadas.

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Rogério Zandamela, Governador do Banco de Moçambique

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