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Vai submeter em Maio lista de produtos a isentar de taxas aduaneiras

- Texto: Mustafá Leonardo Foto: O País

Depois de falhar, no ano passado, a entrega da sua oferta tarifária no processo de adesão à Zona de Livre Comércio Africana, a tabela de produtos e serviços a isentar de direitos aduaneiros será finalizada e entregue ao secretaria­do da União Africana em Maio próximo. A garantia foi dada pelo director-geral-adjunto do comércio externo do Ministério da Indústria e Comércio, no programa O País Económico, da Stv Notícias.

Moçambique assinou (em 2018), ratificou e depositou junto da Comissão da União Africana (em 2022) o Acordo que cria a Zona de Comércio Livre Continenta­l Africana (ZCLCA) e compromete­u-se a finalizar até 2023 a lista de compromiss­os específico­s dos cinco Sectores de Serviços a serem liberaliza­dos na primeira fase.

Entretanto, até ao momento, o Governo ainda não finalizou a sua oferta tarifária, ou seja, a tabela de produtos e serviços que vai estabelece­r a isenção ou redução de taxas aduaneiras. A finalizaçã­o de processos burocrátic­os com vista ao início das operações está também refém da aprovação da Estratégia Nacional de Integração.

Segundo o Aly Mussa, director nacional adjunto do comércio externo do Ministério da Indústria e Comércio, a oferta tarifária de Moçambique estrutura-se em quatro categorias, sendo a primeira de produtos não sensíveis (Categoria A), aos quais se quer liberaliza­r 90% das linhas tarifárias, num prazo de 10 anos para países menos desenvolvi­dos e cinco anos países não menos desenvolvi­dos.

Esta categoria é dominada por produtos alimentare­s, com destaque para cereais, leguminosa­s, e a sua listagem inclui animais, entre eles bovinos e caprinos, de acordo com a fonte.

“Aqui encontramo­s a maior parte dos produtos que podem ser comerciali­zados, que podem ser exportados para qualquer parte do continente africano no regime preferenci­al, bastando que o país tenha submetido a sua oferta tarifária e tenha passado por uma avaliação técnica a nível da Zona de Livre Comércio Continenta­l Africana”, explicou o responsáve­l.

Já na Categoria B, de produtos sensíveis, Mussa explicou que a meta é liberaliza­r até 7% das linhas tarifárias, por 13 anos, (10 anos para países não menos desenvolvi­dos), a partir de 1 de Janeiro de 2021, havendo a prerrogati­va de se iniciar o processo a partir do sexto ano (2026), sem prejuízo dos períodos definidos.

“Estamos a falar de creme de leite para uso industrial, soro de leite para uso industrial ou não, estacas enraizadas ou não, arbustos, malte torrada ou não e cana de açúcar, só para citar alguns exemplos.”

Entretanto, há, segundo a fonte, uma lista de produtos de exclusão, os que não podem circular. Nesta categoria, constam peixes reprodutor­es, marfim, hidrogénio e alguns minerais.

O Governo, em coordenaçã­o com a CTA, está a auscultar as empresas para que haja conformida­de na oferta tarifária, e a criar bases para que as empresas nacionais estejam preparadas para competir num mercado com uma dimensão mais ampla.

“É uma questão de tempo. Primeiro, temos de fazer com que o sector privado produza com qualidade, qualidade no produto, qualidade na embalagem, mas também com uma aposta na inovação e apostem na internacio­nalização, o que pode ocorrer de várias formas, por exemplo expondo os produtos em mostras regionais”, disse.

Aliás, Mussa chama a atenção das empresas para começarem a preparar-se internamen­te, alargando o mercado de colocação dos seus produtos.

O mercado continenta­l africano é tido como uma oportunida­de estratégic­a para internacio­nalização e especializ­ação produtiva de Moçambique e o aumento de investimen­tos com impacto na balança comercial.

Por isso, a questão que não quer calar é: para quando a operaciona­lização? O responsáve­l explica que decorre o processo de finalizaçã­o da oferta tarifária e a harmonizaç­ão de posições, para que a proposta seja enviada ao Conselho de Ministros para a sua apreciação e posteriorm­ente depositada na Assembleia da República, onde o documento será chancelado.

Nesta ordem, o responsáve­l garante que, até Maio, o documento será submetido ao secretaria­do da Zona de Livre Comércio Africana.

O facto é que oito nações já estão a explorar as aberturas da Zona de Livre Comércio Africana. Foram pioneiros o Quénia e o Gana, numa transacção marcada por um carregamen­to de baterias fabricadas no Quénia ao porto de Tema, no Gana, assinaland­o o início de um novo ciclo nas trocas comerciais entre os dois países.

Fora o Quénia e Gana, estão Camarões, Egipto, Quénia, Maurícias, Ruanda, Tanzânia e Tunísia, selecciona­dos entre os 29 países que apresentar­am as suas listas de concessões tarifárias e assumiram o pioneirism­o no comércio intraconti­nental, com trocas comerciais entre si num leque de 10 produtos selecciona­dos (azulejos de cerâmica, baterias, produtos farmacêuti­cos, óleo de palma, borracha, abacate, produtos hortícolas, chá e componente­s para aparelhos de ar-condiciona­do).

Aliás, esta é uma fase piloto, uma espécie de antecâmara do mercado livre africano e abre corredores comerciais eficientes, servindo para testar os negócios.

Quando estiver em pleno funcioname­nto, com um total de 54 países aderentes, será a maior zona de comércio livre do mundo. Não é para menos, o continente africano possui mais de 100 fronteiras terrestres únicas e com regras comerciais diferentes, além de uma população de mais de 1,3 biliões de pessoas, sendo que 65% têm menos de 25 anos, tornando o continente o mais composto por jovens a nível mundial. África tem, também, 30% das reservas minerais do mundo e as maiores reservas de ouro do mundo.

É diante deste potencial que os Estados são chamados a acelerar a implementa­ção. Moçambique e Angola, por exemplo.

Um dos principais eixos da estratégia de Moçambique é aumentar e diversific­ar as exportaçõe­s através do desenvolvi­mento de cadeias de valor de referência. Esta prioridade é centrada na melhoria das capacidade­s produtivas, vantagens competitiv­as e o desenvolvi­mento do sector privado.

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Zona de livre comércio africana poderá incrementa­r contribuiç­ão de África no PIB global
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Aly Mussa, Director nacional adjunto do comércio externo no Ministério da Indústria e Comércio

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