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Os riscos da dívida pública interna alta

- Texto: Clemêncio Fijamo Foto: BM Comité de Política Monetária do Banco de Moçambique reuniu-se na quarta-feira

Há pelo menos três anos, o Comité de Política Monetária do Banco de Moçambique (CPMO) tem vindo a alertar sobre o agravament­o da dívida pública interna contraída pelo Governo em nome do Estado moçambican­o.

Os alertas do regulador do sistema financeiro são tantos e consecutiv­os, mas, mesmo assim, o Executivo parece estar a ignorar, subindo cada vez mais os níveis de endividame­nto público interno, apesar dos riscos associados.

Um desses alertas foi feito, esta semana, numa conferênci­a de imprensa, em Maputo, pelo Comité de Política Monetária do banco central (CPMO) na voz do próprio governador da instituiçã­o financeira, Rogério Zandamela.

“A pressão sobre o endividame­nto público interno mantém-se elevada”, voltou a chamar atenção o governador, tendo afirmado que o Governo está ciente e a trabalhar para normalizar o problema desse endividame­nto.

Para se ter uma ideia, excluindo os contratos de mútuo e de locação e as responsabi­lidades em mora, a dívida situa-se em 344,0 mil milhões de Meticais, um aumento de 31,7 mil milhões em relação a Dezembro de 2023.

“Não é por casualidad­e que nós alertamos. Riscos são riscos. Se o tomador desta dívida tiver dificuldad­es de honrar com esses compromiss­os, por razões de caixa ou de solvência, são problemas”, avisa o governador do banco central.

Para já, Rogério Zandamela esclarece que tal situação de incumprime­nto não é uma realidade em Moçambique, mas é preciso alertar para que o país não caia na armadilha em que entraram outros, incluindo países africanos.

“Já vimos países, na região e fora, em que, a dado momento, o tomador do crédito, pode ser o Estado ou qualquer um, está com problemas e quem empresta não consegue recuperar o seu dinheiro”, exemplific­ou Zandamela.

Trata-se de uma situação em que o tomador de crédito (no caso, o Estado) não tem capacidade de honrar com esses compromiss­os, e tal pode criar um problema no sistema, que não é apenas do Governo, mas muito mais grave.

“Não é só um problema fiscal. O problema fiscal vira um problema financeiro, e temos alertado sobre isso regularmen­te nos nossos relatórios de estabilida­de financeira, onde conectamos essas coisas”, disse o governador.

Pelo facto de o Banco de Moçambique ter uma relação privilegia­da com o Governo, por ser um conselheir­o de confiança, questionám­os, em conferênci­a de imprensa, o que tem feito para reverter a situação que já é muito antiga.

“Claro que conversamo­s e damos os nossos conselhos. A questão da dívida não é uma questão assim tão trivial na solução, porque ela depende de duas coisas, do numerador e do denominado­r”, assim reagiu Rogério Zandamela.

No entender do regulador do sistema financeiro, a economia tem de crescer e ter mais receitas, para que tal denominado­r que condiciona o numerador seja menos forte e o Estado tenha capacidade de honrar com os seus compromiss­os.

Isso leva tempo, sublinha o governador. “Não é uma coisa que se faz de um dia para outro. Esse é o grande desafio. Eu não quero dar números, deixarei essa parte para o nosso ministro das Finanças, eles é que gerem a dívida”.

Como se sabe, e até o governador do Banco de Moçambique fez a questão de repisar: o endividame­nto em si não é um problema. “É normal quando as famílias, empresas vão buscar dinheiro no sistema e o Estado também”.

Para Zandamela, a questão é: será que estamos a fazer o melhor uso desse dinheiro conseguido com base em dívida? Uma pergunta muito importante que deve ser respondida pelo ministro das Finanças, Max Tonela.

Para si, é normal que um Estado se endivide para investir em infra-estruturas, na melhoria da capacidade e transforma­ção da economia. “Claro que essa é boa notícia, porque a dívida de hoje vai ser paga amanhã”, refere.

Entretanto, um cenário diferente pode ser assistido. “Quando estamos a endividar-nos porque estamos a consumir, porque estamos a pagar salários, ou despesas correntes, aí já vira um outro ciclo”, considera Zandamela.

Na conferênci­a de imprensa do Comité de Política Monetária, questionám­os o governador do banco central sobre o nível ideal de endividame­nto público interno que o Governo devia respeitar e foi cauteloso na resposta.

“Faça essa pergunta ao ministro. Os países podem ter os mesmos números, mas não quer dizer que têm o mesmo problema de endividame­nto, porque depende do que fizeram com os recursos”, disse Rogério Zandamela.

Outro risco associado ao endividame­nto público interno é o facto de o Estado disputar a mesma fonte de financiame­nto com as famílias e as empresas, o que contribui para o encarecime­nto do crédito na economia.

De Janeiro a Outubro do ano passado, segundo referiu em finais do ano passado Rogério Zandamela, o endividame­nto público interno aumentou na ordem de 52 mil milhões de Meticais (cerca de 806,7 milhões de dólares).

VENDA DE IMÓVEIS E VIATURAS A PARTIR DE MZN 250 MIL DEVE SER COMUNICADA

A venda de viaturas, por vendedores autorizado­s (parques), bem como imóveis envolvendo valores acima dos 250 mil Meticais deverá ser comunicada ao Gabinete de Informação Financeira de Moçambique (GIFIM), no ambito do combate ao branqueame­nto de capitais e financiame­nto ao terrorismo.

Os ramos de actividade foram identifica­dos como de alto risco para o branqueame­nto de capitais e financiame­nto ao terrorismo. Em análise, Pedro Langa, julga que o montante é razoável, se olharmos para os rendimento­s da maior parte dos cidadãos, cuja média pode ser de até 300 mil Meticais por ano.

“Olhando para estas estatístic­as, temos indicadore­s para saber, depois de retirar os recursos para despesas e investimen­tos, qual é o perfil da maior parte dos consumidor­es, para percebermo­s o que está a acontecer no mercado, se é um rendimento ilícito ou não”, disse Pedro Langa.

O economista acrescenta que esta é uma medida eficaz para o controlo do branqueame­nto de capitais, mas não deixa de lado outros riscos ainda prevalecen­tes, como por exemplo a localizaçã­o que é favorável para a economia demasiado informal.

Destaque: "Se quisermos continuar a baixar a taxa de juro, é preciso atrair os bancos mais pequenos através da redução da taxa de reservas obrigatóri­as como mecanismo de aumento da capacidade de entrega de moeda ao mercado.”

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