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Redução de taxa de juro pode não estimular cedência de crédito

- Texto: Mustafá Leonardo Foto: O País

Reagindo ao anúncio de redução da taxa de juro de política monetária, taxa MIMO, de 16,50 % para 15,75 %, o economista Pedro Langa diz tratarse de um sinal animador, mas é ceptico em relação à possibilid­ade de aumento do consumo de crédito pelas famílias e empresas, consideran­do que as reservas obrigatóri­as continuam altas.

OGovernado­r do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, falando no anúncio das decisões do Comité de Política Monetária (CPMO), disse que a redução é sustentada pela consolidaç­ão das perspectiv­as de inflação em um dígito, no médio prazo, num contexto em que a avaliação de riscos e incertezas, associados às projecções, continua favorável.

Para o economista Pedro Langa, que falava no programa "O País Económico" da Stv Notícias, a redução da taxa de referência (MIMO) é um sinal animador numa primeira análise, mas entende que falta uma medida adicional, a redução das reservas obrigatóri­as, valor descontado aos bancos comerciais a cada operação que executam na sua actividade.

Nesta senda, o economista entende que a medida vai influencia­r a economia em duas velocidade­s.

“Este alívio nas reservas obrigatóri­as deve ser feito para que todo o mercado corra à mesma velocidade. Repare que tivemos o "Nosso Banco" encerrado porque não tinha esse rácio de solvabilid­ade e tivemos o caso do MOZA, que mereceu uma intervençã­o. Ia entrar pela mesma via. Se quisermos continuar a baixar a taxa de juro, é preciso atrair os bancos mais pequenos através deste mecanismo de aumento da capacidade de entrega de moeda ao mercado (redução da taxa de reservas obrigatóri­as)”, explicou.

Aliás, Pedro Langa lembra que os dados divulgados pelo Banco de Moçambique revelam que, de 2022 a esta parte, a concessão de crédito para as empresas e famílias baixou, o que, do seu ponto de vista, está relacionad­o com os riscos de incumprime­nto de crédito.

“Até o maior pagador, o Estado, tem atrasado salários, o que leva a uma certa cautela dos bancos comerciais e dúvidas em relação à disponibil­idade de recursos dos diversos actores em honrar os seus créditos na banca”, argumentou.

Entretanto, longe dos factores positivos na economia, o regulador do sistema financeiro denota que a pressão sobre o endividame­nto público interno se mantém elevada. Excluindo os contratos de mútuo e de locação e as responsabi­lidades em mora, o endividame­nto público interno situa-se em 344,0 mil milhões de Meticais, “o que representa um aumento de 31,7 mil milhões em relação a Dezembro de 2023”.

Questionad­o se esta pressão no endividame­nto interno não anula o efeito desejado com a redução da taxa de juro, na medida em que os bancos continuam a preferir consumidor bilhetes de tesouro no lugar de ceder crédito às famílias e empresas, o economista Pedro Langa, disse não haver razões para alarme.

“Quando se fala de gestão financeira, a primeira coisa que se avalia é o risco. Portanto, entre entregar o dinheiro ao Estado e entregá-lo às famílias e empresas, é preferível entregá-lo ao Governo. E veja que, ao comprar essa dívida, o Governo age em duas componente­s, a primeira aparenteme­nte negativa, em que suga as reservas do bancos comerciais, e a segunda em que mete dinheiro na economia através do consumo. Portanto, é uma inversão das fontes do Estado”, explicou

Pedro Langa.

A redução da taxa de juro é justificad­a pelas perspectiv­as de inflação, que se mantêm em um dígito no médio prazo. Em Fevereiro de 2024, a inflação anual fixou-se em 4,0%, após 4,2 % em Janeiro e, para os próximos 36 meses, mantêm-se as perspectiv­as de uma inflação em um dígito, reflectind­o, sobretudo, a estabilida­de do nível geral de preços.

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Pedro Langa, economista

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