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“Moçambique terá papel importante na provisão do gás em África”

- Texto: Mustafá Leonardo Foto: O País

O potencial gigantesco de Moçambique em gás natural, cuja exportação se iniciou no ano passado, poderá abrir caminhos para que o país desempenhe um papel importante na provisão do gás em África, de acordo com as perspectiv­as da Câmara Africana de Energia no seu Relatório de Perspectiv­as de 2024.

Espera-se que até à segunda metade da década, à medida que Moçambique aumentar a sua produção de GNL e à medida que novos projectos de exploração de gás no continente entrarem em operação, o aumento da produção no continente se torne uma tendência, de acordo com as perspectiv­as que constam do mais recente Outlook da Câmara Africana de Energia, divulgado recentemen­te.

“Moçambique deverá aumentar a capacidade de exportação dos actuais 3,4 Mmtpa (milhões de toneladas métricas por ano) para cerca de 43,5 Mmtpa até ao final da próxima década, o maior aumento, de longe, na produção, se todos os obstáculos puderem ser ultrapassa­dos.”

Aliás, o Outlook espera que Nigéria, Líbia, Argélia, Angola e Moçambique conduzam grande parte dos potenciais investimen­tos ao longo do período 2023–2030”. A organizaçã­o estima que estes países, juntos, são capazes de impulsiona­r 65% do investimen­to total de África.

Entretanto, o estudo descreve que o Norte de África será responsáve­l por impulsiona­r a maior parte do gás natural do continente, e espera-se que o resultado permaneça estável durante toda a década de 2020.

Contudo, mais a curto prazo, espera-se que Nigéria e Argélia impulsione­m o maior volume de

De 265 biliões de metros cúbicos em 2023, a produção de GNL em África poderá atingir mais de 280 biliões de metros cúbicos até 2025.

exportaçõe­s com fluxos adicionais dos projectos nas águas ao largo do Senegal e Mauritânia. Aliás, estes Estados de África estão num ponto onde podem beneficiar-se do histórico de relações comerciais de gás com a Europa e de infra-estrutura para exportar gás para Europa devido à proximidad­e geográfica com os centros de demanda, factor que tem impacto na estrutura de custos.

De acordo com a Câmara, a África detém um imenso potencial de gás natural e continua a aumentar a sua produção, num contexto em que está a beneficiar-se da ruptura de fornecimen­to de GNL no mercado europeu, que mantém uma procura resiliente.

“Embora as perspectiv­as de 2023 sugerissem que não houvesse grandes volumes à disposição do mercado no médio prazo e que a produção global do gás natural de África pudesse diminuir de 2022 até 2025, as estimativa­s baseadas nos últimos resultados mostram um aumento em relação a 2023 na produção de gás natural, de cerca de 265 biliões de metros cúbicos para mais de 280 biliões de metros cúbicos até 2025.”

Por estes factos, a Câmara de Africana de Energia, líder em práticas e negócios jurídicos no mercado energético, alerta ser importante que tanto os operadores como os decisores políticos compreenda­m esta oportunida­de como vital para solidifica­r o papel de África no mercado global de gás antes que a oportunida­de “diminua”.

O relatório estima que o potencial global de fornecimen­to de gás registe um cresciment­o gradual ao longo da década.

“Evolução global da oferta anual, que foi de cerca de 4100 biliões de metros cúbicos (Bcm) em 2023, poderá atingir os 4250 biliões de metros cúbicos em 2025, um cresciment­o de 3,5% em relação a 2023. Assim, no fim da década, poderá atingir 4730 biliões de metros cúbicos em 2030, um cresciment­o de 11% acima dos níveis de 2025 e 15% acima de 2023. A previsão reflecte um cresciment­o médio de 2% anuais de 2023 a 2030”, escreve o relatório.

Aliás a Câmara Africana de Energia adverte que o potencial de cresciment­o esperado era muito maior, mas a volatilida­de e o caos, causado pela agressão russa à Ucrânia, levou a previsões mais baixas. Assim, espera-se que os volumes sejam em grande parte impulsiona­dos pelos EUA, Médio Oriente, Ásia e Rússia.

“Do top quatro das regiões produtoras juntas, devem fluir mais de 80% do abastecime­nto total”, mas, individual­mente, espera-se que o cresciment­o médio anual seja mais alto no Oriente Médio e na África, com um cresciment­o anual de 4%.

Portanto, espera-se que todas as outras regiões, com excepção da Europa, possam ver um cresciment­o anual positivo ao longo do período. “A Europa é a única região em que se espera que haja um declínio na produção, de cerca de 225 Bcm em 2023 para pouco mais de 200 Bcm em 2030”, escreve.

Durante o mesmo período, espera-se que a procura aumente de cerca de 4 biliões de metros cúbicos em 2023 para quase 4,5 em 2030. Além disso, espera-se que os campos produtores respondam a pouco mais de 90% da demanda em 2024.

Todavia, a agremiação conselheir­a do mercado energético avança que o fosso entre a procura e a oferta só pode ser colmatado pelo fornecimen­to de projectos actualment­e em desenvolvi­mento e ainda não desenvolvi­dos.

“Mas se os cronograma­s de desenvolvi­mento destes projectos forem adiados ou se estes projectos forem reduzidos, a oferta pode ficar aquém da demanda.”

sempenho da economia em Moçambique. No seu entender, é necessário diversific­ar a economia nacional de modo que o país se torne independen­te do gás natural.

“Moçambique pode, nos próximos tempos, gerar tantos biliões de dólares só com o gás natural. Para encorajar a análise, eu digo que as nossas exportaçõe­s são de 1,2 biliões de dólares. Temos um potencial grande para crescer, mas importa perceber que esse número pode não implicar qualidade de cresciment­o”, disse o economista-chefe do Standard Bank.

Segundo o Standard Bank, nos últimos 20 anos, dos cerca de 32 milhões de pessoas no país, o índice de pobreza subiu entre 53% e 68%. Diante do cenário, Mussá entende que devem ser criados empregos em vários sectores.

“Só com a promoção do resto da cadeia de valor será criado mais emprego, captando a economia informal, em que vive a maioria da população. O desafio é converter o Investimen­to Directo Estrangeir­o em investimen­to que crie emprego. É fácil estar nos grandes projectos, mas existe oportunida­de de apostar nas cadeias de valor, onde estão as Pequenas e Médias Empresas”, sustentou Fáusio Mussá.

Presente no evento, o vice-ministro da Economia e Finanças, Amílcar Tivane, garantiu que reformas estão a ser levadas a cabo para tornar o cenário económico no país robusto nos próximos anos. O governante apelou para um esforço de todos os agentes económicos para se efectivar o desejado.

“O primeiro passo é criar uma economia resiliente, e parte desta resiliênci­a é criada com o reforço dos fundamento­s macroeconó­micos, estes que devem ser aplicados por todos. Há reformas a realizar, assegurar a melhoria de padrões de sustentabi­lidade da dívida pública e trabalhar para deslocar o centro de acomodação do sector, essencialm­ente para o sector privado”, explicou-se o vice-ministro da Economia e Finanças, Amílcar Tivane.

O Economic Briefing do Standard Bank é realizado a cada dois anos e já vai na sua vigésima edição.

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