O Pais

O caminho ainda é longo, senhor presidente

- OLÍVIA MASSANGO Jornalista

Saiu de uma campanha pouco expressiva, tímida e atípica para o partido do batuque e maçaroca, uma campanha voltada para uma comunicaçã­o em quatro paredes, forçada pela rejeição coral das massas, que à luz do sol não escondiam o seu desprezo e apatia pelo partido que sempre governou, mas agora com a percepção de baixa satisfação.

Na capital, foi mesmo assim. A caça ao voto não foi tarefa fácil para o candidato da Frelimo. Rasaque Manhique não encantou à primeira vista. O povo, saturado de falsas promessas, vociferou impropério­s e deu costas sem aceitar ouvir a cantada política, fez pré-juízos e seguiu às cegas comprando outros discursos sem certi cados de veracidade. Mas isso não importava.

Foi uma prova dos nove reprovada e ofuscada pela acidez da oposição, que maquiaveli­camente plantava a semente do ódio em terra fértil, mas que ironicamen­te não colheu vitória, colheu tempestade num poço com profundida­de in nita.

Hoje, como uma fénix ressurgida dos escombros do processo eleitoral, temos, de facto, a oportunida­de de conhecer o presidente do Município de Maputo. Aquele que, no silêncio da campanha, não se agitou nas ruas, mas construiu um projecto que agora se faz visível, em termos de ideias, e vai à avaliação popular.

Entrou forte, cheio de moral, de peito aberto, de cabeça rme e erguida, to num propósito que ainda ansiamos por conhecer. Dominamos as intenções verbais, mas navegamos ainda na na luz da verdade, essa que apenas o tempo nos vai revelar no compasso do relógio que não vai parar. O tempo será o seu árbitro, num jogo sem prolongame­ntos, e o cronómetro, um juiz rígido, aguardando o m do mandato para proferir a sentença.

Na audácia das promessas de Rasaque Manhique, ouvimos: “Não sejamos, nós, esbanjador­es do erário público”, aplaudimos e depois ouvimos: “Não faz sentido que ocorram construçõe­s de forma desordenad­a na Cidade de Maputo. Não faz sentido demolir. Onde estávamos quando foram edi cadas ”, aplaudimos com mais energia e continuámo­s atentos e ouvimos: “Não é elegante ver disputas entre a polícia municipal e a população (...). Não é para fomentar o informalis­mo, mas não é para actuar sem dó. Não é bonito a polícia municipal arrancar água de coco. Este edifício (Conselho Municipal) não bebe água de coco, temos de disciplina­r…”, colocámo-nos de pé e aplaudimos bem mais alto e mais promessas ouvimos: “Empolar valores na facturas de obras, ou qualquer outro serviço, não tem outro nome senão roubo. Ao tomar conhecimen­to, vamos imediatame­nte anular os contratos (...)”. Com o subir de tom, sentimos que era hora de frear a emoção e trazer a razão ao de cima. Mas ainda estamos sob o efeito analgésico dos discursos até agora consumidos.

E Rasaque Manhique não pára, soma e segue colecciona­ndo sonhos no imaginário colectivo. Entrou como um exímio conhecedor dos problemas e ancorou-se em discursos melosos que confundem resultados com uma versão ebriamente aumentada da sensação de acção. Vale-se da retórica para estes ganhos iniciais. Suas promessas adubam expectativ­as e elevam a ameaça de sincroniza­ção com os resultados projectado­s. O caminho ainda é longo, sr. presidente.

Nosso cérebro, esta máquina de construção de signi cados baseada na experiênci­a, chama-nos para sermos pessimista­s, porque é insano ignorar o conhecimen­to produzido pelo registo do tempo que passou. Mas porque o conhecimen­to não é estático – ele renova-se constantem­ente e reformula-se –, acreditar que pode ser diferente ajuda a contribuir para que os bons resultados venham. Pregar desgraça para o irremediáv­el também seria insano. Mas registar as promessas, observar as acções e deixá-lo trabalhar é o mais sensato.

Os dias vão passar e os resultados serão conhecidos, sejam eles positivos ou negativos. Com a sabedoria do tempo, a verdade não será enviesada nem nos chegará estilhaçad­a ou desfocada. Será cristalina e estará pronta para que, com os óculos de cada munícipe, se formule a verdade individual convenient­e, aquela cuja discussão é de total estupidez, até porque o voto resulta da percepção individual de capacidade de realização.

O caminho ainda é longo, senhor presidente.

Foi uma prova dos nove reprovada e ofuscada pela acidez da oposição, que maquiaveli­camente plantava a semente do ódio em terra fértil, mas que ironicamen­te não colheu vitória, colheu tempestade num poço com

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Mozambique