“Neyma ainda não alcançou o que merece”……
- analisa Craig Young, manager de Neyma
Édas poucas artistas de música em Moçambique com uma carreira activa há mais 15 anos e granjeado uma simpatia do público que vai ganhando robustez a cada dia. Só para se ter uma ideia, até Junho de 2017 era a biografada mais procurada pelos leitores da Revista Biografia e a terceira mais lida na história do jornalismo biográfico em Moçambique, seguindo Lurdes Mutola e Ivone Soares. Estamos a falar de Neyma. A sua vida artística e grau de referência foram os assuntos seleccionados para a primeira bioentrevista, na aplicabilidade atribuída na Revista Biografia, {um género textual onde uma pessoa fala da vida e obra da outra}.
O manager de Neyma, Craig Young, explicou, durante a bioen- trevista, o trabalho técnico que Neyma tem estado a fazer na sua vida artística para obter os actuais resultados na elevação do grau de visibilidade no mercado musical.
Revista Biografia (B) – Quando conheceu a cantora Neyma? Craig Young (CY)
conheci Neyma pessoalmente, na altura acabava de chegar à Moçambique. Foi no fim do meu segundo ano [2009]. Ainda não conhecia muito os artistas moçambicanos e ainda falava pouco português. Não me passava pela cabeça que ficaria 10 anos em Moçambique, mas estou ainda aqui e sinto-me em casa. Na altura trabalhava na área de planificação estratégica e marketing, e em Canadá convivi com música e sempre carreguei música no meu coração.
B – E como começou a ser manager dela? CY
– Neyma partilhou comigo os desafios que tinha e vimos que ela tinha atingido um nível em que tinha muitos fãs e mú- sicas muito boas. Vimos, ainda, que estava ter sucesso na área de produção de música. Neyma acabava de completar 10 anos de carreira e de lançar o álbum “Neyma 10 anos”. Mas acontece que o sector musical em Moçambique não tem muito futuro se abordamos as coisas apenas nessa perspectiva, e ela percebeu que precisava de tornar-se uma marca e fazer com que a marca dela fosse gerida.
Foi nessa vertente em que Neyma começou a ver o que era possível fazer, e começamos a trabalhar. Eu não estava envolvido, ainda, com a cultura moçambicana, mas já trabalhava na área de planificação estratégica e já tinha experiência na área de comuni- cação estratégica, criação e gestão de marca.
Primeiro procuramos encontrar um enquadramento jurídico-legal para gerir a marca Neyma. Criamos a nossa empresa – a Marrabenta Produções – e registamos as marcas dela. A Marrabenta Produções foi criada, em parte, para gerir as marcas e actividades artísticas de Neyma, algumas marcas dela foram registadas em Moçambique e outras nos Estados Unidos de América, inclusive a assinatura de Neyma foi registada como uma marca. Começamos a desenhar o logótipo, que depois foi desenvolvido com o apoio do BCI e da Golo até chegar à fase actual. Neyma sempre teve um projecto infan-
til nas mãos, que criamos com o apoio da DDB. Formalizamos essa marca também e a identidade de “Neyma for Kids”. Este é um trabalho planeado com visão e com previsões de onde pretendemos chegar estra- tegicamente, que seguiu etapas.
B – Fale-nos de algumas etapas… CY
– Começamos este trabalho por volta de 2010… 2011… Desenvolvemos um plano integrado, é uma espécie de guião onde temos todas componentes observadas desde o negócio, marketing, vida da artista, máquina de equipa e várias outras etapas a serem seguidas.
Por exemplo, Neyma é associada à marrabenta e à capulana, mas ela tem talento muito abrangente. Isso está na alma dela e foi trabalhado.
Vimos o seguinte: Neyma é moçambicana, tem orgulho de ser moçambicana, é africana, tem personalidade com charme, é simples. Neyma é muito simples, pode entrar numa sala e misturar-se com pessoas com naturalidade. O outro aspecto que vimos, Neyma tem respeito, da mesma forma que fala com Presidente, fala com uma mãe do bairro. Juntamos todas estas qualidades e valores e associamos à marca Neyma.
A outra situação não menos importante, Neyma é bonita e muito exigente. Além disso, é uma pessoa da família e o que está no primeiro lugar na vida dela são as crianças. Neyma pretende ter impacto na comunidade. Foi a partir destes aspectos que sentamos e decidimos usar todos para construir uma estrutura que vai guiar as nossas decisões na vida artística de Neyma. E foi através das qualidades e valores de Neyma que fizemos surgir a visão Neyma – marrabenta, com apoio da Golo e do BCI. Depois disso veio a parte do vestuário, Neyma olhou para as roupas dela e tinha vários estilos, mas gostava da capulana. Então reconheceu o valor da capulana e decidiu juntar a moda à capulana, que é tradicional, combinando com a beleza dela. Aí vimos que ela era a melhor figura para carregar a visão sobre a capulana no mundo artístico e devolver a atenção para a capulana. Isto porque a capulana representa, de alguma forma, a cultura e a mulher moçambicana. E foi assim que ela adoptou a capulana como seu principal estilo modernizando-a e a moda “pegou”: Neyma é associada à capulana. E posso dizer que ela foi quem influenciou a tendência de muitos artistas moçambicanos usarem a capulana, sem ninguém se aperceber.
B – Quais exemplos práticos tem da influência da marca nas decisões ao longo da carreira de Neyma? CY
– O show “Neyma 15 anos”. No final, tivemos de decidir que só seriam convidados artistas moçambicanos para o espectáculo. Já tínhamos inclusive artistas Internacionais para colaborarem com Neyma, mas foi numa altura em que tínhamos muitos artistas angolanos entrando em Moçambique e acreditava-se muito pouco na capacidade de fazer-se um espectáculo marcante e memorável só com artistas moçambicanos. Pelos valores e qualidade que tínhamos atribuído à marca Neyma, tínhamos de provar que os artistas moçambicanos têm essa capacidade e decidimos convidar só moçambicanos.
B – Que trabalho foi feito para Neyma ser o rosto publicitário
de duas empresas? CY
– Todas etapas que seguimos são necessárias para chegar a este nível de forma sustentável. Para alinhar a marca de uma figura com a marca de uma empresa é preciso olhar várias áreas no enquadramento de valores (que imagem a figura vai tirar de dentro dela e exibir?). É preciso alinhar os valores da pessoa aos valores das marcas das empresas. É preciso trabalhar tudo o que está dentro da pessoa, tirar cá para fora e encontrar marcas de empresas que se identificam com esses valores.
A disciplina é outra coisa que faz parte. Uma empresa não olha só o número de likes que a figura tem no facebook, porque o número de seguidores cria ilusão de popularidade.
O número de likes até pode funcionar a curto prazo, mas para uma acção de lançamento de imagem ou novo posicionamento da marca não só funciona assim, porque a pessoa é representante de uma marca que também tem o seu enquadramento de valores e visão. Portanto, pega-se o enquadramento de valores e a visão da empresa. A seguir, o enquadramento de valores e visão da figura pública. Depois disso faz-se uma avaliação e alinha-se o que há em comum. É preciso fazer um casamento. Pôr uma artista como rosto de uma marca é igual ao processo de casamento entre duas pessoas, porque o artista torna-se a extensão da marca da empresa e vice-versa. Os dois [empresa e a figura pública] têm de ter interesses e valores mútuos para que haja sucesso para os dois.
B – Que implicação artística tem a presença da imagem de
– Isso depende da marca e as publicidades. Normalmente, preferimos planear e coordenar as publicidades em colaboração com as empresas para sincronizar e garantir os melhores resultados.
Em geral, directamente, ajuda a ser ainda mais conhecida, a reforçar as obras artísticas dela, e o valor dela aumenta. Quando sai com uma nova música, por exemplo, facilmente o público familiariza-se.
B – E como é ser Manager de Neyma? CY
– Neyma tem um grande lado profissional. É uma das artistas mais profissionais no mercado moçambicano: é muito muito exigente em todas coisas e não aceita menos de qualidade top. Não aceita colocar nome dela em nada que não tem qualida-
de, é na preparação para show; eventos; maquilhagem… Por exemplo, os estilistas sofrem quando fazem parcerias com ela, alguns já se habituaram e sabem que ela não vai aceitar qualquer coisa. Também, Neyma só deixa um ou dois maquiadores tocarem na cara dela, trabalha mais com Candie e ela, também, é maquiadora.
B – E a história de mudança de penteado? CY
– Ela decidiu mudar um pouco por um período, experimentar uma nova imagem. É mulher e tem direito também… É normal. Quando alguém chega num ponto com reputação, ganha espaço para experimentar algumas coisas. E veja, quando ela mudou o penteado, outras mulheres gostaram e começaram a seguir-lhe. Isso significa que ela já tem poder de influenciar e iniciar novas tendências e novos gostos na sociedade. É marcante!
B – Falou de Neyma exigente… Vemos uma Neyma muito engraçada quando está em públi- co… CY
– [risos…] Ela é brincalhona, faz parte do charme dela. Ela não é muito séria em público, o seu lado sério é no trabalho. Ela gosta de brincar, ficar à-vontade. Quando se está a gerir uma marca é necessário criar um espaço para esse lado dela manifestar-se, porque isso faz parte dela. Nunca se deve sair da personagem verdadeira para criar uma marca, se não teremos uma imagem fora do contexto.
B – Neyma é presente nas redes sociais. Como é feita a gestão dos conteúdos? CY
– Ela própria, já está muito ambientada com isso, e as vezes é a assistente.
B – Como foi pensada a componente de lançamento de músicas? CY
– Depende da época e várias situações. Algumas lançamos através de eventos especiais e outras divulgamos apenas a música e quando sentimos uma reacção do público ai Neyma vai à televisão e rádio para cantar ou falar sobre a música. Quando lançamos a música “A Hi Dzimeni” fizemos em forma de um evento, inclusive o antigo Presidente da República, Joaquim Chissano, participou. Fizemos uma coisa marcante com apoio do DDB. O lançamento da música e vídeo “Sofrimento” foi feito através de um evento especial em parceria com a UNICEF. As músicas infantis “Parabéns” e “Quem Sabe” foram lançadas através de eventos especiais. As músicas “Poeira” e “Mutxado”, por exemplo, esperou a reacção do público. Portanto, depende.
B – Qual é a meta artística de Neyma? CY
– Neyma tem muito potencial e ainda não materializou isso por completo. Ela tem mais talento que ainda não mostrou, e pode fazer muito mais artisticamente. E outro aspecto, Neyma ainda não alcançou o nível internacional que ela merece. Estava a conversar com dois produtores norte-americanos reconhecidos e um artista internacional famoso, em momentos diferentes, que referiram que ela é tipo Shakira africana. Para chegar a esse nível de internacionalização é preciso focalizar-se, acreditar em si, e continuar a trabalhar forte.