Revista Biografia

Minha primeira gravidez……

-

Lembro-me como se tivesse acontecido há 15 minutos. Era dia 18 de Março de 2016, eu e meu marido em casa. O meu esposo olhou para mim e disse: estás grávida. O espanto apoderou-se de mim. Não era o que eu costumava ouvir. O comum para mim, era a mulher anunciar para o marido e não o contrário. Num instante entrei no silêncio. Falava comigo mesmo. Perguntei-me, se ele estava perguntar ou estava a afirmar; se ele estava a brincar ou a falar sério; se ele estava dentro ou fora de si. Pela minha boca saiu a segunda pergunta para fora. Era a mais recomendáv­el naquele momento, mas ele disse: estou a falar sério, você está grávida. Eu queria tanto que aquilo fosse verdade. Mas também receava levantar a expectativ­a. Precisava entender melhor. Estava há 10 anos com ele, e há quatro anos vivendo juntos. Nós já queríamos a bênção de ter uma filha ou um filho, mas eu tinha problemas para conceber. Aquela era uma boa notícia, mas custava-me acreditar. Como podia meu marido ter tanta certeza, mas eu nem sentir que estava grávida. Meu esposo explicou-me que ele é que estava sentir os sintomas de gravidez. Ele é que sentia os enjoos, vómitos, e os desejos [risos…]. Eu tinha um ciclo menstrual irregular, então mesmo esse sinal não funcionava para mim. Aí fiquei na expectativ­a. Se tivesse me dito de dia certamente teria corrido para o hospital, mas já era noite. Então fomos dormir. Aliás, eu não consegui dormir de tanta ansiedade para confirmar

isso, só esperei a noite passar. Quando a escuridão passou, fui tomar banho. Vesti-me e fui às pressas para o Hospital José Macamo. Cheguei lá às 7.00horas. Queria tanto fazer o teste de gravidez o mais rápido possível, a expectativ­a era enorme. Fui fazer o teste no hospital. Pelos argumentos do meu marido acreditava que estava grávida, mas depois de fazer o teste deu um frio na barriga. O medo de que podia não ser daquela vez tomou conta de mim. Ao ver o resultado, uma alegria profunda encheu o meu peito e aos meus olhos vieram as lágrimas de emoção. Era tanta satisfação... e já queria saber qual era o sexo do bebé. Já queria ter a minha médica, abrir ficha tal como eu ouvia que acontecia com as outras mulheres que tinham ficado grávidas. E o médico olhou para mim e disse: calma, que isso não é agora, espera por três meses. Aquilo beliscou a minha emoção, mas eu já estava muito feliz. Eu que tinha problemas de conceber estava grávida! Na minha mente era um novo passo na vida, uma nova era.

~ Bebé mexeu ~

Estava eu sentada no sofá da sala a ver televisão. Eram cerca de 20.00horas. Isso foi em Maio, terceiro mês. De repente senti um movimento dentro da barriga. Era inexplicáv­el e agradável. Peguei um pequeno susto no princípio, porque encontrou-me de surpresa e não sabia o que fazer. Quando percebi que era o bebé a mexer, fiquei a contemplar aque- la sensação maravilhos­a. Percebi então a grande bênção divina que estava dentro de mim e entrei em lágrimas de tanta emoção. Naquele momento veio-me à mente grandes adversidad­es vencidas e o grande valor do momento que estava a passar na minha vida. Recordei-me do meu esposo, peguei no telemóvel e mandei uma mensagem a dizer: o bebé mexeu. Ligou-me imediatame­nte a dizer: estou a sair do serviço daqui a pouco chego aí. Não via a hora de ele chegar a casa. Queria que ele sentisse o bebé mexendo. Ao chegar a casa colocou a mão na minha barriga por umas boas horas a espera da próxima mexida, porque o bebé mexia e parava e depois voltava a mexer. Foi um momento espectacul­ar. O meu marido passou a dormir com as mãos dele na minha barriga. Aquilo animava.

~*~

O terceiro mês foi também o momento em que passei a ter uma médica e abri a ficha, isso já no Hospital Central de Maputo. Passei a ter consulta no dia 20 de cada mês. Foi também a altura em que fiz a reprografi­a, que era para conhecer o sexo do bebé. Isso deixou-me meio chateada [risos…]. Não pudemos conhe-

cer o sexo antes do nascimento. Não mostrava o sexo, apenas as nádegas.

~*~

A gravidez em minha vida foi um momento de muita alegria, mas também acompanhad­as de mudanças. Perdi alguns amigos, que passaram a olhar-me como velha, porque já não podia frequentar discotecas e determinad­os ambientes que já não eram bons para mim.

Estar em casa com meu marido depois do trabalho já era bom antes, com a gravidez passou a ser melhor ainda. Girava nas nossas cabeças aquela ideia de que seríamos mais um, e vindo da nossa relação. O relacionam­ento familiar ficou maravilhos­o, pois já cobravam.

~ Surgimento da barriga ~

Quando a minha barriga apareceu parecia duas bolas de bas meos [risos…]. Comecei a acostumar-me com o aumento de peso. No momento da gravidez aquilo era um encanto, até porque sabia que não era o meu peso que estava a aumentar, mas sim do bebé que estava dentro de mim. Também soube que a barriga não pesa [risos…]. Quanto mais crescia, mais dificuldad­es tinha para dormir. Passei a dormir de costas e quando queria virar tinha de levantar e, por vezes, pedir ao meu marido para me ajudar. No nono mês comecei a dormir no sofá. Já não via a hora de dar a luz.

No dia 10 de Dezembro acordei e com a minha “barrigona” sentei-me no sofá. Era o dia de aniversári­o do meu marido. Quando ele passava perto de mim sempre lhe pedia que me levasse para o hospital para dar parto [risos…]. O meu marido ria-se e dizia: você não está bem, ainda nem estamos na data prevista.

A minha sogra estava morar connosco. A minha avó havia me dito que no dia que acordasse e fizesse uma limpeza nunca feita, aquele seria o dia. Ainda não havia acontecido isso. Mas eu dizia para meu marido acompanhar-me para o hospital. Ele recusava. Fiquei todo dia 10, nada: não nasceu. Dormi. Dia 11, nada: não nasceu. Dormi.

~*~

No dia 12 acordei com uma vontade de arrumar o meu quarto. Trabalhei muito até tirei cama para fora da casa e arrumei a pasta de bebé. Depois sentei-me na sala. Por volta das 15.00horas a minha sogra veio à sala e convidou-me para passear. Saímos. Demos voltas no caminho. Andávamos devagarinh­o.

 ??  ??
 ??  ??
 ??  ?? Delfina Márcia Manhique
Delfina Márcia Manhique
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Mozambique