Impacte para o ecossistema e benefícios socioeconómicos da alga exótica nos Açores
As invasões de espécies não-indígenas (exóticas) representam uma séria ameaça para a biodiversidade marinha. O transporte marítimo e a aquacultura são atualmente os vetores mais importantes na introdução de espécies marinhas em novas áreas, longe da sua localização nativa. Estima-se que cerca de 1. espécies marinhas são diariamente transportadas nas águas de lastro de muitos navios aumentando os riscos da respetiva introdução. Quando se estabelecem, estas espécies exóticas podem tornar-se invasoras, alterando as comunidades costeiras, afetando os serviços do ecossistema através da competição com espécies nativas, levando à diminuição da biodiversidade e até mesmo a extinções locais, e produzindo consideráveis impactes ecológicos e económicos. O processo de invasão é particularmente relevante em ilhas oceânicas como os Açores, onde a falta de predadores, concorrentes e/ou parasitas, combinada com a relativamente baixa diversidade de espécies nativas, pode promover invasões e desencadear mudanças drásticas nas comunidades costeiras. Compreender os fatores biológicos e ecológicos responsáveis pelo sucesso das invasões biológicas e o impacte causado por estas espécies não-indígenas nas comunidades locais é um desafio fundamental para a implementação de programas adequados de monitorização e gestão ambiental. O efeito das invasões litorais nos Açores está relativamente pouco estudado, pelo que é difícil prever a sua ocorrência e desenvolver mecanismos eficazes de mitigação do seu efeito nas comunidades locais. Desde novembro de 1, o Subgrupo de Investigação em Ecologia Aquática Insular do Grupo de Biodiversidade dos Açores - Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (GBA/cEc), com base na Universidade dos Açores, está a desenvolver o projeto intitulado “Impacte ecossistemático e benefícios socioeconómicos de Asparagopsis armata nos Açores” (ASPAZOR, ACORES- 11-FEDER- ), financiado em % pelo FEDER e 1% pela ORAA, e aprovado pela Autoridade de Gestão do Programa Operacional AZORES . A alga exótica A. armata é considerada como uma das espécies com maior potencial invasor nas águas europeias, onde foi observada pela primeira vez em 1, encontrando-se agora bem estabelecida na RAA. Aqui proliferam as duas fases do seu ciclo de vida, a fase produtora de gâmetas conhecida por A. armata e a fase produtora de esporos, anteriormente considerada como uma espécie distinta, Falkenbergia rufolanosa. Uma particularidade importante dos espécimes do género Asparagopsis é a produção de uma variedade de metabolitos com reconhecidas atividades antibacteriana, antimicrobiana, citotóxica e antioxidante, com aplicação em piscicultura, cosmética, e mesmo em medicina como alternativa a antibióticos convencionais. Considerando estas particularidades de A. armata, que potenciam o seu uso como um recurso marinho alternativo, e sabendo que as tentativas de erradicação de espécies invasoras não são geralmente bem-sucedidas, o projeto ASPAZOR (ver http://aspazor1.wixsite.com/aspazor) tem como objetivos específicos: i) a caracterização molecular e morfológica das linhagens de Asparagopsis que ocorrem nos Açores; ii) a identificação dos fatores que determinam a sua abundância e distribuição; e iii) o estudo dos efeitos desta Figura 1. A) Asparagopsis armata numa poça de maré na costa sul de São Miguel; B) pormenor microscópico da fase produtora de esporos; e C) estruturas diagnosticantes que ocorrem nos gametófitos de A. armata