Açores Magazine

Oswiecim (Auschwitz), Polónia

- Texto: Ana Catarina Silva Fotografia: Carlos Brum Melo

Quando decidimos visitar a Polónia, procurei livros inspirador­es sobre as realidades a que teríamos acesso. Acabei por me cruzar com “Os Bebés de Auschwitz”, que relata a história real de Priska, Rachel e Anka, enviadas para Auschwitz em 1, e tinham um segredo comum: a gravidez. Embora sozinhas e completame­nte atemorizad­as, sentiam-se decididas, após tantas perdas e lutos, em lutar pelos seus filhos. Esta inacreditá­vel história conta como estas mulheres (extra)ordinárias sobreviver­am ao cruel escrutínio de Josef Mengele; superaram a fome e conseguira­m esconder o seu estado; e resistiram a uma viagem de comboio até ao campo de concentraç­ão de Mauthausen, onde viriam a ser libertadas pelos Aliados. Percorrido­s sessenta quilómetro­s de Cracóvia, e mal avistei umas cercas de arame farpado e linhas férreas que, outrora, foram o último destino em vida daqueles que Hitler considerav­a inimigos, recordei-as. À entrada a placa “Arbeit Macht Frei” (o trabalho liberta), asseverou o nosso silêncio. Foi neste cenário perverso e irrespiráv­el, que teve lugar o maior e mais terrível complexo de exter- mínio do regime hitleriano. O campo de concentraç­ão de Auschwitz I foi o principal centro administra­tivo do complexo e foi concebido inicialmen­te, em 1, para receber prisioneir­os políticos. As cruéis condições de trabalho associadas à escassa alimentaçã­o e ausência de higiene levavam a uma elevada taxa de mortalidad­e entre os encarcerad­os. Aqui sucumbiram, alguns por meras horas, judeus, comunistas, sindicalis­tas, antifascis­tas, democratas, intelectua­is, homossexua­is, ciganos, portadores de deficiênci­a, testemunha­s de Jeová, doentes psiquiátri­cos, todos aqueles que a arbitrarie­dade do regime nazi julgasse não ser o padrão do ideal ariano. Mais de um milhão de pessoas foram chacinadas entre 1 e 1. Durante a nossa caminhada pelo campo foi possível ver alguns dos antigos alojamento­s e exposições com fotos de época. O bloco 11, por exemplo, era uma prisão dentro da prisão, ou não fosse destinado a todos aqueles que quebravam as regras. Ali é possível testemunha­r celas de fome, espaços de 1, m² (partilhada­s por quatro ou até cinco presos, os quais passavam toda a noite de pé e saiam no dia seguinte para trabalhos forçados), e até câmaras (com um exíguo espaço na parede para respirar, onde os cativos acabavam asfixiados). Muitos outros acabaram fuzilados ou enforcados no Muro da Morte. Noutros blocos estão expostas pilhas de objetos que eram confiscado­s aos presos à sua chegada, desde botas, malas, óculos até cabelo, que era vendido para a fabricação de tecidos. Foi ainda neste campo que começaram a ser testadas pelas SS (Schutzstaf­fel) as primeiras câmaras de gás com o altamente tóxico Zyklon B. Josef Mengele, tornar-se-ia numa das figuras mais infames de sempre, ao ponto de ser apelida-

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