Canal Beagle, Argentina
Chegara o dia em que eu e o Viajante Ilustrador navegaríamos pelo Canal Beagle, um estreito que separa as ilhas do arquipélago da Terra do Fogo e que deve o seu nome ao navio britânico HMS Beagle. Na última das suas duas viagens pela América do Sul, contou com a presença de Charles Darwin que ali começou a escrever sobre a sua teoria da evolução das espécies, mais tarde partilhada ao mundo através do incontornável livro “A Origem das Espécies”. Durante esta experiência visitámos a Isla de los Lobos e a Isla de los Pájaros – ilhotas nas quais é possível observar reservas de leões-marinhos, cormorões reais (que são muito parecidos aos pinguis), albatrozes, patos e gaivotas – e as Islas Bridge, onde viviam os yámanas antes da chegada dos colonizadores. Neste percurso conhecemos também o Faro Les Éclaireurs (que significa Farol dos Vigias), vulgarmente apelidado de Farol do Fim do Mundo, monumento símbolo de Ushuaia. Se a manhã já havia sido especial, esperava-nos uma tarde igualmente promissora, com uma ida à Estância Harberton. O seu fundador, o missionário anglicano Thomas Bridges, para além de ter mantido uma boa convivência com os nativos da Terra do Fogo, foi o autor do primeiro dicionário yámanainglês. Aqui vale a pena conhecer o Museu Acatushún, devendo o seu nome a uma expressão usada pelos nativos para se referirem à zona em que se localiza este museu-laboratório. Apesar de aparentemente humilde e simples, é o resultado de mais de trinta anos de investigação científica da sua criadora, Natalie Goodall, possuindo uma coleção de cerca de exemplares de esqueletos de aves e mamíferos marinhos do extremo sul. Dali seguimos para a mágica Isla Martillo, ou a célebre Pinguinera, que abriga uma colónia de milhares de pinguins no seu período de reprodução, sendo possível admirar três espécies – Pinguim de Magalhães, Pinguim Rei e Pinguim Papua –, mas somente entre os meses de outubro e abril. A maioria dos Pinguins de Magalhães exibe uma faixa branca na cabeça e uma faixa negra que contorna o peito e são nadadores exímios. Já os Pinguins Rei, para além de poderem atingir quase um metro de altura e pesar até 1 quilos, a sua diferença está sobretudo na cabeça e no dorso, cuja coloração é de um laranja intenso em contraste com o preto. Por sua vez, os Pinguins Papua (ou de Gentoo), facilmente reconhecidos pelo seu bico laranja vivo e pela sua mancha branca na cabeça, são os terceiros maiores da sua espécie, sendo apenas precedidos pelo Pinguim Imperador e pelo Pinguim Rei. Ademais alimentam ainda o curioso facto de serem a ave mais rápida do planeta debaixo de água. Os pinguins formam casais monogâmicos que dividem os cuidados com os ninhos e filhotes. Ali, completamente deliciada com estas encantadoras aves a centímetros de distância, recordei uma conversa que tive com uma menina muito especial, aquando da nossa ida ao Nepal