Valorização da biomassa na gestão de plantas invasoras lenhosas:
As espécies exóticas invasoras (EEI) representam uma ameaça contínua para os ecossistemas de todo o mundo, sendo uma das causas da perda de biodiversidade. A monitorização de espécies invasoras é vital, de forma a impedir a sua disseminação e a diminuir ou mesmo erradicar as suas populações, particularmente naqueles casos onde os serviços ecossistémicos são afetados negativamente. A biomassa disponível na parte aérea (isto é, incluindo o tronco, os ramos e a folhagem) é uma variável chave nos programas de avaliação florestal e na gestão recursos florestais a nível local, regional e internacional. As estimativas de biomassa lenhosa são necessárias para avaliar a disponibilidade de madeira e de combustível. No arquipélago dos Açores, um terço das manchas florestais é dominado por incenso ( Pittosporum undulatum), ameaçando os ecossistemas naturais, nomeadamente a vegetação nativa. No entanto, os bosques de exóticas também podem ter um enorme potencial de biomassa. No caso do incenso, a nossa equipa (CIBIO-Açores) tem vindo a realizar estudos no que se refere à possibilidade de valorização energética da sua biomassa, em conjunto com parceiros privados. O objetivo deste estudo, que fez parte da minha tese de doutoramento, foi o de avaliar a disponibilidade de biomassa da planta invasora lenhosa Pittosporum undulatum, devido ao seu baixo teor de cinzas e ao poder calorífico relativa- mente alto da sua biomassa, nas ilhas de São Miguel, Terceira e Graciosa, para determinar o seu potencial de valorização energética. Neste estudo, usámos diferentes abordagens de modelação em combinação com dados de inventário florestal que facultam a distribuição espacial dos povoamentos florestais. Foram amostrados 1 povoamentos dominados por P. undulatum, e estudados vários aspetos. Assim, a avaliação da densidade dos povoamentos envolveu a comparação de diferentes técnicas para determinar o número de árvores por hectare. Outro aspeto na avaliação dos povoamentos, foi a utilização de modelos estatísticos para relacionar a biomassa de cada árvore com as respetivas características dendrométricas (diâmetro do tronco medido à altura do peito, área basal, altura da árvore e número de ramos à altura do peito), num total de árvores. Os melhores modelos permitem estimar a biomassa de uma árvore a partir da sua altura e do diâmetro do tronco. A determinação da idade das árvores, através da contagem do número de anéis de crescimento, proporciona uma base para a definição de períodos de rotação em diferentes condições de localização, grau de exposição e altitude. Deste modo, é possível estimar taxas de crescimento, a partir de secções transversais do tronco ou de amostras obtidas com a sonda de Pressler, em que se visualizam os incrementos anuais no diâmetro do tronco. Imagem 1: Área Protegida para a Gestão de Habitats ou Espécies da Tronqueira, destacando-se a Ribeira do Guilherme invadida por P. undulatum e um pormenor das flores (esquerda). Área de Paisagem Protegida das Sete Cidades, nesta evidencia-se a dominância por P. undulatum (direita)