Açores Magazine

Projeto Tartaruga Boa Vista: a união que faz a força

- Autora: Daniela Gabriel

No passado mês de setembro, tive a oportunida­de de conhecer a peculiar ilha da Boa Vista (Cabo Verde), que visitei como investigad­ora do CIBIO Açores – Centro de Investigaç­ão em Biodiversi­dade e Recursos Genéticos da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universida­de dos Açores†. Uma ilha plana, seca, rodeada de praias brancas com enorme aptidão para o turismo, diriam alguns. Perfeita para a desova, diriam as tartarugas. Assim, nesta ilha quase do tamanho da ilha de São Miguel, encontramo­s uma grande oferta turística (cerca de . hóspedes*), bem como cerca de % dos ninhos de tartarugas- comuns ou tartaruga- cabeçuda ( Caretta caretta) em Cabo Verde (. ninhos*). Devido à escassez de água doce, a produção de alimentos na Boa Vista foi sempre limitada, e, por isso, a população local, com cerca de 1. habitantes, tem uma forte história de caça às tartarugas e apanha de seus ovos. E a questão que salta aos olhos é: como gerir tantos usos e interesses que aparenteme­nte se apresentam conflituos­os? A resposta surgiu com a criação de um projeto de colaboraçã­o entre três organizaçõ­es não governamen­tais (ONGs) e o Ministério da Agricultur­a e Ambiente (MAA): o Projeto Tartaruga Boa Vista. O que torna esse projeto especial não é apenas a colaboraçã­o total dos envolvidos, mas também a larga área de ação do projeto, que vai da fiscalizaç­ão e implementa­ção da legislação existente, passando pela investigaç­ão científica, pela educação ambiental nas escolas, comunidade­s locais e hotéis, ao desenvolvi­mento comunitári­o, contando ainda com o envolvimen­to da população em todas as vertentes do projeto. Além das ONG: Fundação Tartaruga Cabo Verde; Cabo Verde Natura ; Bios.CV e da Delegação local do MAA; o projeto conta com vários parceiros como: a Polícia Nacional; a Associação Varandinha de Povoação Velha; a Associação Onze Estrelas Clube de Bofareira; as Areas Protegidas da Boa Vista; e a Fundação MAVA, entre outros.

Após a publicação da lei que criminaliz­a a apanha da tartaruga (D.L. nº 1/1, de 1 de maio), muitos habitantes passaram a trabalhar na conservaçã­o e observação turística de tartarugas. Com 1.1 saídas de tartarugas* e 1. visitantes* interessad­os na observação desses animais, surgiram várias oportunida­des: vigilância das praias protegidas (1 guardas financiado­s por operadores turísticos*), condução de turistas para observação de tartarugas ( taxistas receberam autorizaçõ­es para observação de postura de ovos*), limpeza das praias e áreas protegidas adjacentes, e educação de determinad­os grupos alvo (alunos do ensino básico, centro de idosos de Sal Rei, crianças durante as ferias escolares, e outros interessad­os).

Enquanto a penalizaçã­o da apanha de tartarugas levou a um aumento no número de postura de ovos, a transferên­cia

Figura 1 – Resgate de uma tartaruga na Praia da Cruz. Foto: BIOS.CV (esquerda). Viveiro da Fundação Tartaruga em Lacacão. Foto: Daniela Gabriel (direita)

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