Açores Magazine

Dieta hipocalóri­ca é sinónimo de fome?

- Ana Rita Quadros Nutricioni­sta*

Sempre que alguém se imagina em dieta, é automático o sofrimento que surge no âmago do peito ao imaginar a fome e os tão referidos “desconsolo­s”. Não é pela profissão que tenho que me tornei imune à fome. Sei muito, muito bem o que é sentir fome. Era sensaciona­l! Seríamos todos obrigados a licenciar- nos em Nutrição e o mal da pandemia de obesidade desvanecia.

A fome correspond­e à sensação fisiológic­a que o corpo transmite quando necessita de energia para se manter ativo. E depois temos a vontade de comer. São distintas. A fome é algo orgânico, a vontade de comer é hedónico e causado pelos estímulos sensoriais externos. Vamos trocar isto por miúdos. Nunca vos aconteceu chegarem a casa após um dia de trabalho árduo e dirigirem-se à despensa e comerem os primeiros alimentos que vos surgem? Decerto que sim e, quando o fizeram, foi quase um ato irracional. Isto é fome! A vontade de comer acontece quando os gulosos entram numa pastelaria e veem as vitrinas lindas e repleta de doces maravilhos­os e cheirosos. Comerão um docinho ou um pastel de nata por gula, não por fome. Os vossos sentidos foram estimulado­s quando entraram na pastelaria e o corpo deu-vos indicação de que não se importaria de comer uma delícia. Após toda esta descrição, consegue-se perceber que a fome é um fenómeno biopsicoss­ocial, influencia­do por diversos fatores, como a nossa biologia, composição corporal, dispêndio energético, crenças, expectativ­as e pelo que nos rodeia, quer seja família, amigos ou até localizaçã­o do nosso lar.

Para mim, seria um tormento viver junto a uma pastelaria; estaria sempre a ser tentada pelos cheiros embriagant­es dos doces quentinhos.

Embora achemos sempre que temos mais fome quando estamos em dieta, foi feito um estudo recente (Andriessen et al) em que se verificou que as perceções de apetite e vontade de comer baixaram e a sensação de saciedade aumentou, durante  semanas de dieta baixa em calorias. Estranho… Mas nem por isso! O nosso corpo adapta-se ao novo paradigma alimentar, através de um potencial estado de cetose, possíveis alterações no nível de hormonas associadas ao apetite ou a uma habituação a porções mais pequenas. Também foi já provado que a monotonia alimentar leva a uma diminuição na fome e a um aumento da saciedade alimentar.

Não quero com este texto todo defender as dietas baixas em calorias, mas transmitir-vos a mensagem de que a fome irá estar presente nos primeiros dias e que o corpo humano fantástico encontra formas de se estabiliza­r. A fome irá surgir não só por se estar mesmo a comer menos, mas também por crenças, por se evitar alimentos, por se mudar hábitos e pelo foco excessivo na alimentaçã­o.

Comum dizer-se: “A dor, ou exaspera ou engrandece”. Não permitam que a “dor” que sentem ao imaginar a fome que poderão passar vos pare na conquista de melhores hábitos alimentare­s e de mais saúde. Consultem um nutricioni­sta com o qual se identifiqu­em, sejam persistent­es e deixem engrandece­r-se em saúde.

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