Dieta hipocalórica é sinónimo de fome?
Sempre que alguém se imagina em dieta, é automático o sofrimento que surge no âmago do peito ao imaginar a fome e os tão referidos “desconsolos”. Não é pela profissão que tenho que me tornei imune à fome. Sei muito, muito bem o que é sentir fome. Era sensacional! Seríamos todos obrigados a licenciar- nos em Nutrição e o mal da pandemia de obesidade desvanecia.
A fome corresponde à sensação fisiológica que o corpo transmite quando necessita de energia para se manter ativo. E depois temos a vontade de comer. São distintas. A fome é algo orgânico, a vontade de comer é hedónico e causado pelos estímulos sensoriais externos. Vamos trocar isto por miúdos. Nunca vos aconteceu chegarem a casa após um dia de trabalho árduo e dirigirem-se à despensa e comerem os primeiros alimentos que vos surgem? Decerto que sim e, quando o fizeram, foi quase um ato irracional. Isto é fome! A vontade de comer acontece quando os gulosos entram numa pastelaria e veem as vitrinas lindas e repleta de doces maravilhosos e cheirosos. Comerão um docinho ou um pastel de nata por gula, não por fome. Os vossos sentidos foram estimulados quando entraram na pastelaria e o corpo deu-vos indicação de que não se importaria de comer uma delícia. Após toda esta descrição, consegue-se perceber que a fome é um fenómeno biopsicossocial, influenciado por diversos fatores, como a nossa biologia, composição corporal, dispêndio energético, crenças, expectativas e pelo que nos rodeia, quer seja família, amigos ou até localização do nosso lar.
Para mim, seria um tormento viver junto a uma pastelaria; estaria sempre a ser tentada pelos cheiros embriagantes dos doces quentinhos.
Embora achemos sempre que temos mais fome quando estamos em dieta, foi feito um estudo recente (Andriessen et al) em que se verificou que as perceções de apetite e vontade de comer baixaram e a sensação de saciedade aumentou, durante semanas de dieta baixa em calorias. Estranho… Mas nem por isso! O nosso corpo adapta-se ao novo paradigma alimentar, através de um potencial estado de cetose, possíveis alterações no nível de hormonas associadas ao apetite ou a uma habituação a porções mais pequenas. Também foi já provado que a monotonia alimentar leva a uma diminuição na fome e a um aumento da saciedade alimentar.
Não quero com este texto todo defender as dietas baixas em calorias, mas transmitir-vos a mensagem de que a fome irá estar presente nos primeiros dias e que o corpo humano fantástico encontra formas de se estabilizar. A fome irá surgir não só por se estar mesmo a comer menos, mas também por crenças, por se evitar alimentos, por se mudar hábitos e pelo foco excessivo na alimentação.
Comum dizer-se: “A dor, ou exaspera ou engrandece”. Não permitam que a “dor” que sentem ao imaginar a fome que poderão passar vos pare na conquista de melhores hábitos alimentares e de mais saúde. Consultem um nutricionista com o qual se identifiquem, sejam persistentes e deixem engrandecer-se em saúde.