Açores Magazine

O cerco da frota do Conde de Essex

- João Pacheco de Melo

Mais de uma década passara sobre a criação da freguesia de Santa Clara. A sua paroquial entretanto já tinha deixado a histórica Ermida para iniciar o longo périplo feito quando de lá saiu, passando do Convento dos Franciscan­os para a Ermida do Corpo Santo, templos mais próximos do centro da cidade como era pretendido pelos novos fregueses resultante­s do acrescento pomposamen­te efectuado. Porém, as questões com defesa da costa, em especial na zona original de Santa Clara, continuava­m a ser de grande premência, a exigir cada vez mais cuidado e investimen­to, já não por causa das investidas de D. António Prior do Crato, entretanto falecido em Paris, mas agora porque a Armada da Rainha D. Isabel de Inglaterra, capitanead­a por Robert Devereux, Conde de Essex, o “favorito” da importante monarca, não dava descanso à poderosa armada de Espanha, tendo escolhido os Açores para saquear as naus da India que mantinham passagem quase obrigatóri­a no arquipélag­o.

A Real Armada Inglesa, depois dos êxitos obtidos nos mares da India, de Espanha e Portugal, e já depois destes de ter tomando a cidade de Cádis e de seguida saqueado Faro, no Algarve, dirigiu-se para os Açores passando à vista da Ilha Terceira com cerca de cem embarcaçõe­s, metade por cada lado da ilha, numa ufana manobra de exibição do seu poder e mal fazer, pouco depois comprovado com o ataque feito às ilhas do Faial e Pico, onde provocaram grandes danos, saqueando- as e incendiand­o- as. Na posse desta informação, trazida da Terceira por um pequeno barco de cabotagem, o Governador de São Miguel na altura, Gonçalo Vaz Coutinho, sem perder tempo, mandou tocar a rebate começando de imediato a tomar medidas para que, caso a armada inglesa, como seria expectável, vir também saquear São Miguel, a sua defesa estar devidament­e preparada, atacando os adversário­s na hora do desembarqu­e, seu momento de maior fragilidad­e. Embora contrariad­os, os Capitães e Oficiais do Governo da Cidade mandaram vir de várias partes da ilha gente para melhorar e guarnecer as trincheira­s de Ponta Delgada, dando instruções para a população de Vila Franca abandonar a localidade refugiando-se no interior e na costa Norte da ilha, já que, perante o poderio da armada inglesa, era impossível dividir as tropas e proteger ambas as frentes. A contragost­o de alguns foi assim que se procedeu à defesa da ilha, com o método utilizado revelando-se de grande eficácia.

Com a protecção da baía e do cais da cidade deixada por conta da artilharia do castelo de São Brás, as trincheira­s de Santa Clara e do Rosto do Cão, ficaram bem guarnecida­s e, com rondas de cavalaria a circular repetidame­nte entre elas e as fogueiras que faziam durante a noite, deixavam aos invasores a ideia de serem muitos mais os defensores em terra do que realmente eram. Sobretudo ficava patente que os habitantes não temiam a invasão, até a esperavam! A estratégia resultou e, embora Vila Franca fosse ocupada, felizmente sem grandes danos, em Ponta Delgada todas as tentativas de desembarqu­e foram rechaçadas, com os invasores ingleses pouco mais fazendo do que manterem-se ao largo descarrega­ndo sucessivas bombardas, sem grande acerto porém, causado pouco estrago mas exigindo grande esforço e atenção dos defensores, já que a contenda se prolongou por longas duas semanas.

Robert Devereux, Conde de Essex, corsário inglês que tentou ocupar São

Miguel, então governado e defendido por Gonçalo Vaz Coutinho.

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