Andores mecânicos do século XIV inspiram obras de João Miguel Ramos
A partir de andores mecânicos concebidos no século XIV para retratar a ascensão em cerimónias religiosas, João Miguel Ramos concebeu as obras apresentadas na exposição “ Máquinas”, que se distribui por trabalhos de desenho, pintura e escultura.
“Deparei-me com esta máquina a partir do texto de um filósofo francês, em que falava sobre a simbologia existente entre a máquina e a ideia de nuvem. E eu sempre me identifiquei com o conceito de nuvem enquanto elemento fluido, assim como quanto à ideia de pintura”, explicou o artista, que tem os seus trabalhos patentes na Galeria Fonseca Macedo até de maio.
Sobre as obras em exposição, João Miguel Ramos começou por referir que neste conjunto de trabalhos propõe-se, simultaneamente, “a reconstrução de um aparelho concebido no século XIV, a interpretação de um conjunto de ícones renascentistas e a condição do objeto ‘pintura’ enquanto sistema e dispositivo”, partindo de “uma noção de ‘Máquina’, numa aceção literal e simbólica”.
Nesse sentido, no centro da sala de exposição exibem-se duas reconstruções do aparelho concebido no século XIV, que estão envolvidas por quatro núcleos de três de trabalhos de pintura e desenho.
“Só se apresentam duas máquinas, sendo que a terceira é a ideia da pintura enquanto objeto expositivo, documento que envolve tudo”, explicou o artista, que realizou estes trabalhos entre 1 e 1, entre a Alemanha e Portugal.
Como tal, o jovem afirmou que as pinturas de menor formato - de inspiração renascentista - apresentam “situações ou cenas ascéticas que não só servem uma função estética como representam a própria documentação da máquina”. “Historicamente nunca se vai conseguir distinguir as artes da religião, ainda que me interesse mais o facto de a pintura ter funcionado como documento para mostrar um objeto que desapareceu, os andores mecânicos”, realçou.
Apresenta-se depois, em cada núcleo, um desenho que também funcionou como protótipo para a construção das máquinas.
Já as obras de maior formato que constituem uma série de pinturas realizadas em Leipzig e Berlim, surgem “da imposição de pensar questões de espaço, contexto e forma”, em que “a seleção e transferência, posteriormente rasurada, de uma fotografia tirada com o telemóvel da Berliner Fernsehturm (ou Alex Tower), em Berlim, contrapõe a posição mística tida nos desenhos, esculturas e interpretações de obras renascentistas, bem como sugere uma relação virtual entre o local da sua exposição e o local de origem”. “Nestes trabalhos continua a existir o foco na verticalidade, mas o foco deixa de ser transcendental para passar a ser industrial”, realça.
Estes trabalhos caracterizam-se ainda pela imprimatura - primeira camada de cor - avermelhada, que é tradicionalmente aplicada na figuração, bem como a composição sistemática, que confere um sentido de repetição, e enfatizam a retórica diagramática da sua construção — onde são escrutinadas decisões e particularizadas eventualidades.
João Miguel Ramos nasceu em São Miguel, em 1, e atualmente vive e trabalha entre o Porto e os Açores. É licenciado e mestre em Artes Plásticas – Pintura pela Faculdade de Belas Artes do Porto (1).
Esta é a primeira vez que expõe individualmente na Galeria Fonseca Macedo, onde em 1 tinha participado na mostra coletiva “Cosmografias, a história e outras cores”
Está patente no Museu Municipal da Ribeira Grande a exposição “Via Sacra 1”, da artista plástica Sandra Cordeiro.
A mostra apresenta quinze telas que representam a paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo, executadas através da técnica mista sobre tela de espuma expansiva e patine envelhecida. Ao percorrer as telas, o visitante revisita os últimos momentos da vida de Jesus. Sandra Cordeiro nasceu em 1, na freguesia dos Arrifes, concelho de Ponta Delgada. Em 1 iniciou a sua formação em artes plásticas (trabalho em relevo com betume) e um curso de pintura a óleo.
Em 1 inaugurou, no Coliseu Micaelense, a sua primeira exposição de artes plásticas, intitulada “O Bonsai”. Em 1 efetivou mais três exposições, duas patentes no hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada, sendo que a terceira foi exposta no restaurante “A Tasca”. Como é que as artes plásticas surgem na sua vida?
Eu sempre gostei muito de desenho e de pintura e em 1 fiz uma formação de trabalho em relevo com betume. Em 1 apresentei a minha primeira exposição intitulada “O Bonsai”. O que a levou agora a realizar o trabalho “Via Sacra 1”?
Este era já um projeto antigo que voltou ao meu pensamento em 1.
Eu adoro arte sacra e a cruz é um símbolo de que gosto muito e que me inspira.
A cruz foi a firmeza e o sofrimento de Jesus, representando a sua força em nossas vidas, fazendo acreditar que a nossa jornada é seguir em frente e que mesmo sendo em situações diferentes não podemos perder a coragem. Este trabalho tem como inspiração as histórias da Bíblia e a forma como essas histórias se relacionam com o que a vida atual. Uma vez que todos nós acabamos por dar os mesmos passos que Cristo deu, ainda que por outros caminhos, e foi isso que me inspirou neste trabalho.
Olhando cada passo, interiormente podemos
foi com esse intuito que fiz esta exposição. Uma vez que permite mostrar que todos temos dificuldades, mas que Cristo foi o nosso espelho. Pelo que se pararmos um bocadinho poderemos tentar resolver da melhor maneira. Quais os momentos mais importantes da sua vida?
Ser mãe. E o facto de aos poucos e com muita luta ir alcançando os meu sonhos.
O que lhe dá energia?
É ser quem sou: fiel e dedicada.
E o que lhe tira essa energia?
As coisas que não dão certo. Mas já aprendi que quando isso acontece o melhor é parar, esquecer e voltar a caminhar.