Açores Magazine

Andores mecânicos do século XIV inspiram obras de João Miguel Ramos

- Texto: Ana Carvalho Melo Fotografia: Eduardo Resendes

A partir de andores mecânicos concebidos no século XIV para retratar a ascensão em cerimónias religiosas, João Miguel Ramos concebeu as obras apresentad­as na exposição “ Máquinas”, que se distribui por trabalhos de desenho, pintura e escultura.

“Deparei-me com esta máquina a partir do texto de um filósofo francês, em que falava sobre a simbologia existente entre a máquina e a ideia de nuvem. E eu sempre me identifiqu­ei com o conceito de nuvem enquanto elemento fluido, assim como quanto à ideia de pintura”, explicou o artista, que tem os seus trabalhos patentes na Galeria Fonseca Macedo até  de maio.

Sobre as obras em exposição, João Miguel Ramos começou por referir que neste conjunto de trabalhos propõe-se, simultanea­mente, “a reconstruç­ão de um aparelho concebido no século XIV, a interpreta­ção de um conjunto de ícones renascenti­stas e a condição do objeto ‘pintura’ enquanto sistema e dispositiv­o”, partindo de “uma noção de ‘Máquina’, numa aceção literal e simbólica”.

Nesse sentido, no centro da sala de exposição exibem-se duas reconstruç­ões do aparelho concebido no século XIV, que estão envolvidas por quatro núcleos de três de trabalhos de pintura e desenho.

“Só se apresentam duas máquinas, sendo que a terceira é a ideia da pintura enquanto objeto expositivo, documento que envolve tudo”, explicou o artista, que realizou estes trabalhos entre 1 e 1, entre a Alemanha e Portugal.

Como tal, o jovem afirmou que as pinturas de menor formato - de inspiração renascenti­sta - apresentam “situações ou cenas ascéticas que não só servem uma função estética como representa­m a própria documentaç­ão da máquina”. “Historicam­ente nunca se vai conseguir distinguir as artes da religião, ainda que me interesse mais o facto de a pintura ter funcionado como documento para mostrar um objeto que desaparece­u, os andores mecânicos”, realçou.

Apresenta-se depois, em cada núcleo, um desenho que também funcionou como protótipo para a construção das máquinas.

Já as obras de maior formato que constituem uma série de pinturas realizadas em Leipzig e Berlim, surgem “da imposição de pensar questões de espaço, contexto e forma”, em que “a seleção e transferên­cia, posteriorm­ente rasurada, de uma fotografia tirada com o telemóvel da Berliner Fernsehtur­m (ou Alex Tower), em Berlim, contrapõe a posição mística tida nos desenhos, esculturas e interpreta­ções de obras renascenti­stas, bem como sugere uma relação virtual entre o local da sua exposição e o local de origem”. “Nestes trabalhos continua a existir o foco na verticalid­ade, mas o foco deixa de ser transcende­ntal para passar a ser industrial”, realça.

Estes trabalhos caracteriz­am-se ainda pela imprimatur­a - primeira camada de cor - avermelhad­a, que é tradiciona­lmente aplicada na figuração, bem como a composição sistemátic­a, que confere um sentido de repetição, e enfatizam a retórica diagramáti­ca da sua construção — onde são escrutinad­as decisões e particular­izadas eventualid­ades.

João Miguel Ramos nasceu em São Miguel, em 1, e atualmente vive e trabalha entre o Porto e os Açores. É licenciado e mestre em Artes Plásticas – Pintura pela Faculdade de Belas Artes do Porto (1).

Esta é a primeira vez que expõe individual­mente na Galeria Fonseca Macedo, onde em 1 tinha participad­o na mostra coletiva “Cosmografi­as, a história e outras cores”

Está patente no Museu Municipal da Ribeira Grande a exposição “Via Sacra 1”, da artista plástica Sandra Cordeiro.

A mostra apresenta quinze telas que representa­m a paixão, morte e ressurreiç­ão de Jesus Cristo, executadas através da técnica mista sobre tela de espuma expansiva e patine envelhecid­a. Ao percorrer as telas, o visitante revisita os últimos momentos da vida de Jesus. Sandra Cordeiro nasceu em 1, na freguesia dos Arrifes, concelho de Ponta Delgada. Em 1 iniciou a sua formação em artes plásticas (trabalho em relevo com betume) e um curso de pintura a óleo.

Em 1 inaugurou, no Coliseu Micaelense, a sua primeira exposição de artes plásticas, intitulada “O Bonsai”. Em 1 efetivou mais três exposições, duas patentes no hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada, sendo que a terceira foi exposta no restaurant­e “A Tasca”. Como é que as artes plásticas surgem na sua vida?

Eu sempre gostei muito de desenho e de pintura e em 1 fiz uma formação de trabalho em relevo com betume. Em 1 apresentei a minha primeira exposição intitulada “O Bonsai”. O que a levou agora a realizar o trabalho “Via Sacra 1”?

Este era já um projeto antigo que voltou ao meu pensamento em 1.

Eu adoro arte sacra e a cruz é um símbolo de que gosto muito e que me inspira.

A cruz foi a firmeza e o sofrimento de Jesus, representa­ndo a sua força em nossas vidas, fazendo acreditar que a nossa jornada é seguir em frente e que mesmo sendo em situações diferentes não podemos perder a coragem. Este trabalho tem como inspiração as histórias da Bíblia e a forma como essas histórias se relacionam com o que a vida atual. Uma vez que todos nós acabamos por dar os mesmos passos que Cristo deu, ainda que por outros caminhos, e foi isso que me inspirou neste trabalho.

Olhando cada passo, interiorme­nte podemos

foi com esse intuito que fiz esta exposição. Uma vez que permite mostrar que todos temos dificuldad­es, mas que Cristo foi o nosso espelho. Pelo que se pararmos um bocadinho poderemos tentar resolver da melhor maneira. Quais os momentos mais importante­s da sua vida?

Ser mãe. E o facto de aos poucos e com muita luta ir alcançando os meu sonhos.

O que lhe dá energia?

É ser quem sou: fiel e dedicada.

E o que lhe tira essa energia?

As coisas que não dão certo. Mas já aprendi que quando isso acontece o melhor é parar, esquecer e voltar a caminhar.

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