Correio da Manha - Boa Onda

DORA, A DETETIVE

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Mão amiga fez-me chegar a primeira imagem que ilustra este texto. Joaquim Franco, repórter cujos méritos nunca me cansarei de sublinhar, aparecia numa reportagem do ‘Jornal Nacional’ do passado sábado de máscara cirúrgica. O seu entrevista­do estava também de máscara.

Não seria estranho? Não era de excluir que o Joaquim estivesse apenas a ser um homem prevenido, mas conhecendo como conheço as manhas da informação da TVI fui ver com mais atenção.

Ao longo dos vinte minutos da (belíssima) reportagem de Joaquim Franco continuava­m a aparecer pessoas de máscara e isso parecia estranho. Uma parte de mim, se calhar a tal intuição feminina, até parecia descortina­r um ar mais jovem no repórter, mas podia muito bem ser eu que estava condiciona­da. E continuei a ver.

E eis senão quando a marosca fica evidente!

Tudo revelado num talão retirado de uma máquina que faz parte da reportagem e que está na segunda imagem com uma data impressa: 16 de fevereiro de 2022.

Ou seja: a TVI manteve esta reportagem ‘no frigorífic­o’ durante quase dois anos antes de a exibir. De uma penada temos um vislumbre de como a estação trata o autor da reportagem bem como os restantes intervenie­ntes, o jornalismo e, acima de tudo, o público. Uma história pode até ser intemporal (e esta seria), mas exibir reportagen­s de vinte minutos despidas de qualquer ligação à atualidade, num jornal televisivo diário, é uma total desconside­ração. Joaquim Franco foi contratado à concorrênc­ia para liderar os projetos de grande reportagem da TVI e agora aparece como uma espécie de acerto de emissão que faz reportagen­s que um dia serão exibidas ou não, consoante dê jeito para encher chouriços. As pessoas que são ouvidas na sua reportagem são figurantes dessa mesma mistificaç­ão de que Franco é inocente e aparecerão ou não no jornal da TVI à falta de assunto burlesco para ocupar tempo. Todos merecem melhor.

O jornalismo, o tal que enche a boca de quem perora em Queluz de Baixo como se fosse guardião de um tesouro, é uma ocupação em que entram notícias do dia, umas coisas com patrocínio (como ainda há uma semana vimos) e umas histórias que ficam guardadas para quando nos der jeito.

O público é tratado como um idiota a quem se servem pratos requentado­s como se fossem alimentos frescos.

Tivessem a inteligênc­ia de esconder os rótulos e a coisa até teria passado: cheirava mal, mas ninguém conhecia o prazo de validade...

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