O REGRESSO DOS PROGRAMAS DE `BOLA SEM BOLA'
“Esse ambiente de toxicidade que se foi criando à volta deste tipo de programas, e para o qual contribui muito os próprios clubes e as suas máquinas de comunicação, coloca-nos perante uma situação de que chegou a altura de terminar este tipo de programas na SIC Notícias.” Palavras de ontem (julho de 2020) de Ricardo Costa, diretor de informação da SIC. Quase quatro anos depois entra-lhe pela janela a toxicidade à qual fechou a porta: o atual ambiente dos novos programas de ‘bola sem bola’ na SIC roça a toxicidade. Falo, como é bom de ver, dos muito longos e muito estéreis debates, discussões, controvérsias, arrufos, amuos, birras e berreiros em torno dos foras de jogo, penáltis, contratações falhadas, erros de arbitragem e expulsões perdoadas no mundo da política.
Na semana da entrada em funções da nova AR, o fenómeno teve o seu maior momento de esplendor protagonizado por Miguel Prata Roque. Para quem não conheça (o que é perfeitamente normal) é um comentador da SIC Notícias com um certo ar de Farinelli (nascido Nicola Broschi) que em dois dias consecutivos foi tratado pelos seus pares de comentário como mentiroso, para dizer o mínimo. Num dia foi Miguel Morgado e no outro foi Sebastião Bugalho, que chegou ao ponto de se arvorar (e bem) numa espécie de provedor do telespectador da SIC. Aí entraram em campo “os próprios clubes e as suas máquinas de comunicação” e as redes sociais procuraram ser salvíficas do comentador. Censuravam as ditas redes os excessos dos que apontaram o dedo a Prata Roque e, em particular, a atuação de Bugalho numa defesa dos telespectadores que era considerada descabida. Tratava-se de resgatar o mesmo Prata Roque que na véspera se tinha dirigido a Miguel Morgado com a seguinte frase: “Isso é brincar com as pessoas que estão lá em casa e isso não te permito!”.
Todo este enredo já foi visto nos extintos ‘Play Off’ e ‘Dia Seguinte’, que desapareceram sem que isso acarretasse perda da cobertura noticiosa, do debate ou do comentário desportivo. A futebolização da política e o hooliganismo doutrinal nas redes sociais estão no ponto em que devem ser travadas. Não o entender é usar as mesmas vistas curtas que não permitem ver a chegada dos extremismos. Quaisquer que sejam.