A Taça da Gritaria
Pep Guardiola ficou “aborrecido” com o jogo defensivo do FC Porto na terça-feira e quando foi instado pelos jornalistas a explicar-se melhor respondeu curto e direto: “Têm de perguntar ao treinador do FC Porto”. Na noite da véspera, segunda-feira, também Jorge Jesus terá ficado exasperado – ficar “aborrecido” não é com ele – com o jogo defensivo do Marítimo, o adversário do Benfica nesta última jornada da Liga portuguesa – e, ainda em campo, mal Everton fez o golo da viragem do resultado, foi-se o treinador do Benfica direitinho como uma seta a Lito Vidigal e atirou-lhe com um inóspito “tem mas é vergonha, vai mas é treinar o Elvas”. Basicamente queixaram-se os dois treinadores, Guardiola e Jesus, da mesma coisa e cada um deles reagiu à sua maneira muito
COMPETIÇÃO DE ORATÓRIA
própria face às dificuldades que as suas equipas sentiram para desmantelar o autocarro dos adversários.
Como seria de esperar, as reações não tardaram. No caso de Jorge Jesus não reagiu Vidigal porque não lhe apeteceu, mas reagiu o Elvas que se sentiu ofendido e menorizado, por via indireta, com as palavras do técnico do Benfica mandando-o ir treinar o Amadora. Até ao momento, o Amadora ainda não reagiu, o que é de lamentar. No caso de Guardiola, reagiu, pela via oficial, o
FC Porto num chorrilho de desconsiderações a Guardiola pela sua falta de “classe”, a Bernardo Silva por ser “racista” e ao propriamente dito Manchester City por não ter “noção”. Neste campeonato oratório do arranque da semana, o campeonato da gritaria que meteu ao barulho Benfica, Marítimo, Elvas, FC Porto e City, o vencedor foi o FC Porto, o que não espanta porque entre os quatro emblemas é o que detém maiores pergaminhos na competição.
Na véspera do jogo no Porto, Guardiola tinha antecipado o mote: “Faz parte da cultura deles gritarem uns com os outros”. E Fernandinho, o “capitão” do City, tentou ir mais longe no fim do jogo reproduzindo, palavra por palavra, o discurso que lhe foi soprado ao ouvido por Pedro Pinto, o novo diretor de comunicação do Benfica. Quem, se não um benfiquista dos sete costados, poderia dizer o que Fernandinho disse? Se aquilo não foi propaganda vermelha – “o Porto tem um estilo único, sempre a pressionar o árbitro, todas as faltas que sofrem caem para o chão a gritar, parece que precisam de
A SEMANA COMEÇOU COM UMA INÓSPITA
chamar a ambulância” – então teremos de redefinir todo o conceito da propaganda. E do barulho também.
Ainda recentemente, o enorme arquiteto português Álvaro Siza Vieira explicou numa entrevista a uma revista estrangeira que se tornou adepto do Benfica “por causa do barulho”. Siza Vieira quando era criança vivia perto das Antas “e nos dias de jogo havia muito barulho” o que “era muito incómodo”. Bem sabemos que há barulhos e barulhos, porém…n