Big Brother, Big Sister e seus ecrãs
Oprimeiro-ministro julgou que se safava de perguntas dos jornalistas sobre o incêndio de Monchique usando o Twitter, qual Big Brother, para propaganda política. O seu tweet com três fotos encenadas em pose de líder teve o efeito contrário ao pretendido. Costa teve depois de ir ao comando da ANPC responder a perguntas, onde, como é hábito desde Pedrógão, se espalhou ao comprido. Vivendo num mundo irreal, longe do povo, fala dos incêndios como quem fala de negociações parlamentares ou de percentagens do défice. Não tem a mínima sensibilidade, como revelou com a sua “excepção à regra”, a sua “vela de aniversário” e a sua “extraordinária” ausência de mortes.
Quando há incêndios, o poder odeia os media. Em 2017, o governo proibiu outras pessoas de comunicarem com os jornalistas, concentrando a tarefa em Patrícia Gaspar, número dois da Protecção Civil (ANPC). A censura fascistóide coloca-a nessa posição de Big Sister, sempre a olhar para nós nos noticiários. Por vezes, os noticiários resultam em acentuada esquizofrenia, pois o que a Big Sister afirma contraria o que os repórteres mostram no terreno. Não sendo especialista em incêndios, parece-me que a esquizofrenia resulta de haver no terreno seres humanos e casas, alfaias, animais, vegetação a arder ou em risco — e no comando da ANPC haver ecrãs com Google Earth e outros softwares mostrando chamazinhas desenhadas e colunas de fumo vistas de satélites, imagens virtuais a partir das quais a Big Sister e seus camaradas dão ordens ou desordens a quem anda no terreno, ou até nada dizem a centenas de bombeiros que aguardam horas a fio, quais turistas fotografando o incêndio.
Gaspar, numa das suas intervenções Big Sister, agradeceu aos media jornalísticos o trabalho de divulgação de informações. Os media mais não faziam do que o seu trabalho, mas um responsável de topo agradecer aos media informação sobre incêndios é uma novidade absoluta no período dos fogos. Os responsáveis odeiam os media. Entende-se, como se viu em Monchique: é nos media que vemos população desconfiada dos bombeiros para defender casas, animais e bens e revoltada com os exageros da GNR; é nos media que o povo revela informação escondida pelas autoridades, que vemos vários responsáveis criticando asperamente o topo do comando; é nos media que vemos as chamas altas, não em género “vela de aniversário” nos ecrãs.
O agradecimento da Big Sister Gaspar e o falhanço da comunicação do Big Brother Costa indicam que o poder político socialista talvez entenda, em 2018, finalmente!, que está mais difícil controlar a comunicação a respeito de incêndios.
QUANDO HÁ INCÊNDIOS, O PODER
ODEIA OS MEDIA. É NOS MEDIA QUE VEMOS POPULAÇÃO
DESCONFIADA