CÉREBRO MELHOR E PIOR
O cérebro de uma pessoa não muda só na infância ou na adolescência. O cérebro
muda a vida inteira. É algo dinâmico, muito mais parecido com um músculo do que com um osso. No entanto, como tudo o que muda, pode mudar para melhor ou para pior, dificultando as capacidades cognitivas e físicas e complicando o dia-a-dia.
Há três aspectos particularmente importantes para que o cérebro nos ajude, segundo refere Michael Merzenich, neurocientista, pioneiro nos estudos sobre a maleabilidade do cérebro, na obra ‘Soft-Wired’, ainda não traduzida para português, com o sugestivo sub-título ‘Como a ciência da plasticidade do cérebro pode mudar a tua vida’.
Primeiro aspecto, a mudança do cérebro acontece quando o cérebro está para aí virado… se uma pessoa estiver atenta, motivada para aprender, para se mexer, o cérebro liberta os neuroquímicos necessários para as mudanças acontecerem. Se estivermos a fazer umacoisa e a pensar noutra, compoucaatenção ao que fazemos, sem verdadeiramente nos esforçarmos, não háquímica cerebral que facilite amudança; não aprendemos, não melhoramos, nada fazemos de especial. Geralmente, o que fazemos não só não melhora, como piora. Segundo aspecto, o cérebro muda quando estamos a pensar, sem mais nada fazermos. Merzenich chama a atenção para o facto de os processos cerebrais envolvidos, por exemplo, a guiar umcarro ou a tocar piano, serem os mesmos que os de pensar ou imaginar guiar umcarro oude pensar ouimaginar estar a tocar piano. As mudanças no cérebro, a aprendizagem assente no disparar de novas ligações neurais, pode ser conseguida apenas pensando, apenas imaginando. Terceiro aspecto, quando aprendemos algo de novo o cérebro apaga, enfraquece, outros conhecimentos, outras memórias, pensamentos que nos ocupam tempo e atenção, que são umaespécie de ruído de fundo. As novas ligações neurais apagamas ligações menos usadas à medida que aprendemos. Por um lado, alguns neurónios ganhamnovos inquilinos; por outro lado, são gerados novos neurónios com os novos conhecimentos.
Mas atenção, a plasticidade do cérebro, a sua maleabilidade, funciona nos dois sentidos. É tão fácil gerar mudanças positivas como negativas, que diminuem a capacidade da memória e em geral as capacidades físicas e mentais. Além disto, há um perigo escondido. Merzenich refere a tendência para à medida que se envelhece se facilitar as mudanças negativas no cérebro; pensamos que não nos vamos lembrar e esse pensamento ajuda mesmo a esquecer... Facilitando, corre-se o risco de acontecer mesmo.
No cérebro, é tão fácil gerar mudanças positivas como negativas