VIEIRA ESCONDE FORTUNA EM NOME DOS FILHOS
ARGUIDOS PASSAM TERCEIRA NOITE NOS CALABOUÇOS DA PSP
Não tinha outra solução. A forma de tentar contornar o perigo de continuação da atividade criminosa que o pode levar à prisão preventiva ou à prisão domiciliária, com pulseira eletrónica - era afastar-se da gestão do Benfica. Foi o que fez, ontem de manhã, antes mesmo do interrogatório começar. Luís Filipe Vieira suspendeu as funções na SAD encarnada e espera agora que a Justiça o premeie por isso. Que não o mandem para a cadeia até julgamento.
Em causa estava o entendimento de Rosário Teixeira. O procurador que, sabe-se agora, há vários anos o investigava não tem dúvidas de que este momento era crucial. Se por um lado Vieira não consegue sacar mais dinheiro da banca sem dar garantias, poderia agora, no momento em que o mercado do futebol está aberto, conseguir comissões por transferências de jogadores. Um perigo real de crimes iminentes que poderia levar o magistrado a defender a sua manutenção na cadeia.
Convencer Luís Filipe Vieira de que esse era o único caminho não terá sido difícil. Ao fim de duas noites nas celas da PSP de Moscavide, em Lisboa - ontem voltou a pernoitar nestas instalações - o presidente dos encarnados agora em funções suspensas já tinha percebido que este processo não era uma brincadeira. Estava perante os magistrados que tinham prendido José Sócrates e que tinham arriscado a carreira ao fazer tremer o sistema político e o Partido Socialista. Não tinham medo de também abanar o futebol que, aliás, parece já lhe ter voltado as costas. O Benfica nem uma linha escreveu, nos comunicados já emitidos, de solidariedade para com Vieira e nenhum dirigente veio a terreiro defender a sua inocência. O silêncio torna-se ensurdecedor e Vieira tem agora de se defender. Com tempo, sem a pressão de prazos, e de preferência longe de um estabelecimento prisional.
O risco de arrastar os dois filhos para este processo também terá sido determinante. Se na primeira hora todos acharam que mais uma vez este problema se resolvia - como tem acontecido nos últimos anos após sucessivas buscas à casa dos encarnados - quando Tiago Vieira foi também detido tudo mudou. O Ministério Público defende que Vieira utilizou os seus familiares - mulher e filhos - para esconder o património que terá obtido ilicitamente. O amigo de Vieira - conhecido por ‘Rei dos Frangos’ - também está no centro da investigação. Terá servido de testa de ferro do líder das águias no alegado desvio de verbas do Benfica. É o principal acionista individual do clube e a sua ligação a Vieira está a ser passada a pente fino pelos investigadores. Rosário Teixeira deverá proibir Vieira de contactar com Bruno Macedo e José António dos Santos. Impedir também qualquer ligação de Vieira a funcionários e colaboradores da Luz, já que o clube será vítima neste processo, tendo sido lesado pelo seu presidente em vários milhões de euros. Mas evitar a cadeia é a prioridade e a saída pela porta pequena a única solução.n
PROCURADOR DEFENDIA QUE MERCADO ABERTO PROPICIAVA CRIMES
RISCO DE ARRASTAR OS FILHOS OBRIGA VIEIRA A PRESTAR DECLARAÇÕES
CONVENCER CLIENTE DE QUE ÚNICA SOLUÇÃO ERA A SAÍDA DOS ENCARNADOS