Um museu para salvar o cante alentejano
INAUGURAÇÃO r Núcleo nasce no espaço contíguo à Casa do Cante para agregar as suas valências PANDEMIA r Câmara vai desenvolver estudo para apurar o impacto da mortalidade nos grupos
Com o intuito de salvaguardar uma das mais genuínas expressões artísticas do povo português, o cante alentejano, foi ontem inaugurado, numa cerimónia reservada a convidados por causa das restrições impostas pela pandemia, o Museu do Cante, em Serpa (Beja). O novo espaço surge na sequência da já existente Casa do Cante, “que praticamente foi o núcleo da candidatura do cante alentejano à UNESCO, em 2014”, conforme recordou ao
UM TERÇO DOS CERCA DE 180 GRUPOS PODE NÃO VOLTAR A REUNIR-SE
CM o presidente da Câmara Municipal de Serpa, Tomé Pires. Um novo centro interpretativo junta-se assim ao Centro Documental Manuel Dias Nunes, a uma galeria e ao auditório da Casa do Cante.
O núcleo museológico surge numa altura delicada , depois de muitas aldeias da região terem sido duramente atingidas pela pandemia. “Um terço dos cerca de 180 grupos de cante alentejano pode não voltar a reunir-se. Muitos grupos corais estão envelhecidos. É provável que o ‘rombo’ seja muito grande”, estima Paulo Lima, antropólogo e um dos responsáveis pela classificação do cante como Património
Cultural Imaterial pela UNESCO. Além da mortalidade, há que contar agora com outro fator: “As pessoas têm medo de voltar a juntar-se. Os grupos corais vivem dos convites, dos convívios e o que noto é o medo”, concluiu
Lima. Por isso, “vai ser feito um estudo para apurar o impacto da pandemia nos coros”, avança o autarca Tomé Pires, que considera o conhecimento da realidade parte do esforço para “salvaguardar a tradição”.n