DALTON TREVISAN: ‘O VAMPIRO DE CURITIBA’
Experimentações com a língua portuguesa até no domínio do erótico
“Erotismo ocupa lugar de relevo, sempre associado à ironia, na obra de Trevisan
Dalton Jérson Trevisan (n. 1925) é um escritor brasileiro em cuja obra se destacam os contos, onde inclui poesia, sendo ainda autor de um romance, ‘A Polaquinha’ (ed. Relógio d’Água). O prestígio de Trevisan como contista deve muito ao ritmo e à originalidade das histórias, mas também ao caráter inovador da sua escrita, de que é exemplo a prosa poética minimalista em ‘Ah é?’ ou ‘234’. Ao apresentá-lo como vencedor do Prémio Camões, em 2012, o então secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas (cronista do CM), descreveu a sua obra como “uma opção radical pela literatura enquanto arte da palavra”, sublinhando as suas “incessantes experimentações com a língua portuguesa - muitas vezes em oposição a ela”. É nessa dimensão experimental que o erotismo ocupa um papel de relevo, sempre associado à ironia, nomeadamente em ‘Contos Eróticos’, ‘Rita Ritinha Ritona’, ‘Macho não Ganha Flor’, ‘O Anão e a Ninfeta’ ou ‘A Gorda do Tiki Bar’.
A fama de Trevisan cresceu também graças ao seu feitio reservado, que o leva a fugir dos meios intelectuais e da vida social, vivendo há longos anos em reclusão. Nasceu daí – e do título de um dos seus livros de maior êxito – a alcunha de ‘O Vampiro de Curitiba’ (ed. Relógio d’Água’). O reconhecimento do público e da crítica chegou cedo na carreira do autor, ao ganhar, com ‘Novelas Pouco Exemplares’ (ed. Relógio d’Água), o Prémio Jabuti, em 1959. Foi o primeiro de muitos em que não compareceu à cerimónia.