Ataque na Alemanha planeado em Alcântara
ALERTAS r Quatro meses após chegarem como refugiados já estavam denunciados como sendo do Daesh SIS r Secreta recebeu aviso alemão
Ammar e Yasir terão entrado para o Daesh em 2014, seguindo as pisadas de um irmão mais velho que já estava na rede terrorista desde 2004. Ammar era “um membro de destaque local, em Mossul [Norte do Iraque], onde deterá a posição de ‘chefe’” e ambos participaram em violência contra a população. Esta denúncia chegou ao SEF de Leiria, a 26 de julho de 2017, por um refugiado iraquiano que reconheceu os dois irmãos agora detidos pela PJ por pertencerem ao Daesh. A 10 de agosto desse ano partilhou-a com as restantes polícias: Portugal estava avisado que acolhera em março de 2017 como refugiados dois suspeitos de terrorismo muito perigosos.
Ammar e Yasir estabeleciam-se em Santo Amaro, Alcântara (Lisboa) e a UNCT/PJ abriu um inquérito. Logo em 25 de outubro desse ano o Serviço de Informações e Segurança acrescentava alarme: a secreta avisava que recebera do estrangeiro a informação de que quatro homens estariam a preparar um atentado na Alemanha em nome do Daesh e avaliava “como provável que
MAIS VELHO ERA ‘CHEFE’. MAS NÃO COMETERAM CRIMES EM PORTUGAL
ASILO ADIADO LEVA A AMEAÇA DE SUICÍDIO: “NÃO MORRO SOZINHO”
os mesmos [Ammar e Yasir] sejam dois dos identificados” e que, por isso, eram “um risco à segurança interna da Europa e, consequentemente, de Portugal”. No mês seguinte, a PJ informou que Ammar entrou mesmo na Alemanha “para requerer asilo às autoridades de imigração de Ellwangen” e voltou depois voluntariamente a Portugal.
Os dois irmãos iraquianos, de um total de seis, quatro deles ligados ao Daesh, de acordo com relatos de vítimas, seguiram a vida em Portugal, sem dar nas vistas ou cometer crimes. Yasir conseguiu empregos em restaurantes e num call center. Ammar teve mais dificuldades. De tal forma que a 23 de outubro de 2018, um ano após a primeira avaliação, o SIS considera-o “um risco para a segurança interna portuguesa, em particular devido à sua possível ligação à organização terrorista Daesh e, nesse âmbito, ao possível planeamento e execução de um ataque terrorista num país da Europa mas também resultante do seu comportamento hostil e recusa de integração na sociedade portuguesa, possivelmente alavancados pela perfilhação do ideário extremista da organização terrorista”. Perante os receios, Ammar tem a decisão do pedido de asilo (já aprovada para o irmão) protelada para dar tempo à investigação e revolta-se. A 19 de fevereiro de 2019 foi ao Gabinete de Asilo e Refugiados e “demonstrou frustração e hostilidade” e ameaçou: “Cheguei ao meu limite. Eu suicido-me. Mas não morro sozinho. Estou a falar a sério.” Perante o histórico de Ammar, a 2 de março de 2019, o SEF comunicou o caso ao Ministério Público.
O sucessivo risco e as ameaças estão no despacho com que o Ministério Público apresentou, quinta-feira, os irmãos a juiz. E nas decisões que confirmaram a recusa de asilo a Ammar.n