Correio da Manhã Weekend

PAULO RANGEL ASSUME SER HOMOSSEXUA­L

Não o fez antes para proteger mãe católica

- MIGUEL AZEVEDO

CONFISSÃO r Eurodeputa­do assume pela primeira vez, publicamen­te, aquilo que, diz, já não era segredo para ninguém DESABAFO r “Conversa com os meus pais nunca existiu”, revela

Eu gosto de ser como sou. Nunca escondi a minha orientação sexual mas fui muitas vezes discreto para proteger o meu núcleo familiar mais íntimo.” Pela primeira vez, Paulo Rangel assumiu, publicamen­te, a sua homossexua­lidade. Foi ontem, no programa ‘Alta Definição’, da SIC.

Numa conversa sem medos e sem rodeios, o eurodeputa­do social-democrata garantiu que nunca fez segredo sobre o assunto (“quem tinha que saber já sabia”), mas também deixou claro que não teria sido possível falar sobre isso antes da morte da mãe em 2019. “A minha mãe era católica e para ela era uma coisa difícil. Não tenho dúvidas que isto pesou sobre ela. Nós temos de proteger as nossas famílias. Esta conversa não a teria tido antes de 2019, mas apenas para proteger a minha mãe”, disse. “Depois da sua morte, ficou claro que ia chegar o dia.” Assumindo que com o desapareci­mento, primeiro do pai, em 2014, e depois da mãe, perdeu as duas pessoas mais importante­s da sua vida, o político revelou, contudo, que guarda uma mágoa: “A conversa com os meus pais nunca existiu.”

Quanto ao facto de ter crescido no seio de uma família de educação católica, o eurodeputa­do do PSD, de 53 anos, confessou que isso nunca foi um problema. “Sempre me dediquei à Teologia, estudei bastante e Deus gosta de nós como somos. Jesus nunca faria uma discrimina­ção. Deus não está assim tão interessad­o no que se passa no quarto de cada um.”

Ao longo do programa, Paulo Rangel não se escusou a falar do processo de descoberta e de aceitação da sua orientação sexual.

“Foi um processo natural de descoberta, mas depois também há um processo de recusa e de ignorância”, disse. “Entre os 31 e 33 anos, as coisas pacificara­m-se. Até lá tinha muitas dúvidas. Eu próprio não sabia bem. Havia uma certa tristeza até pela ideia de defraudar os pais. Essa descoberta com certeza que foi uma coisa difícil.” E declarou ainda: “A orientação sexual de um político não é relevante para a sociedade.”

“ORIENTAÇÃO SEXUAL NÃO É RELEVANTE PARA A SOCIEDADE”, DIZ

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Rangel começou cedo a fazer intervençõ­es públicas. Em 2001 entrou na política

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