Correio da Manhã Weekend

“NÃO HÁ MILAGRES COM O VALOR DAS REFEIÇÕES NAS ESCOLAS”

Nutricioni­sta defende que o Governo exagerou nos produtos banidos e diz que faz falta ensinar a comer

- POR JANETE FRAZÃO Jornalista CM

Se não têm na escola, vão a cafés ou pedem Uber Eats

O GOVERNO BANIU DOS BARES E DAS MÁQUINAS DE VENDA AUTOMÁTICA, NAS ESCOLAS, MAIS DE 50 PRODUTOS ALIMENTARE­S. A LISTA É EXAGERADA?

É importante a escola ser um veículo de educação alimentar, mas uma restrição tão severa como esta talvez não seja tão educativa assim. Na minha opinião foram restritivo­s demais com alguns produtos, até porque hoje há um leque de alimentos que se podem adequar. A indústria alimentar evoluiu muito nos últimos anos e tem cada vez mais produtos com baixo teor de gordura, de açúcar e de sal.

QUE PRODUTOS FICARAM EXCLUÍDOS E QUE CONSIDERAR­IA VENDER NAS ESCOLAS ?

O incentivo à água é importante, mas poderia haver outros produtos à venda como, por exemplo, sumos com elevadas percentage­ns de fruta. As sandes são muito importante­s, mas hoje há snacks que são boas opções e que poderiam estar em pequena quantidade. Até gelados... há já alguns com um perfil mais saudável.

HÁ MUITO A IDEIA DE QUE É CARO COMER SAUDÁVEL?

Já não é muito assim. Temos muitos produtos bons com valores acessíveis. Uma das coisas que tem sido o cavalo de batalha da Ordem é a necessidad­e de haver projetos e programas para integrar os jovens com nutricioni­stas – há poucos em ambiente escolar - e dar-lhes apoio, explicar o porquê de uma sandes em vez de um bolo, ensinar a olhar para os rótulos. Há iogurtes que têm mais calorias do que sobremesas… Os jovens podem mudar também os padrões em casa.

TAMBÉM HÁ AQUILO QUE OS ALUNOS COMEM FORA DA ESCOLA...

Exatamente. Não têm na escola, vão comprar a cafés ou pedem Uber Eats. A mensagem que eventualme­nte poderiam levar para casa é para a vida, para os pais saberem o que dar em casa ou enviar na lancheira. Num estudo que fiz e que nunca mais esqueço concluiu-se que 27% das crianças comiam batatas fritas ao pequeno-almoço. Há padrões alimentare­s em que é preciso mudar tudo.

SE JÁ HÁ TANTAS OPÇÕES E COM PREÇOS ACESSÍVEIS, PORQUE É QUE A OFERTA NAS CANTINAS CONTINUA TÃO INSATISFAT­ÓRIA?

Há escolas que fornecem refeições boas. Agora, não há milagres com o valor das refeições nas escolas. É como as hospitalar­es. Não se pode querer alta qualidade sem o Estado aumentar a compartici­pação.

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal