Correio da Manhã Weekend

Europeus somos

-

Os europeus em geral e os franceses em particular foram surpreendi­dos por duas decisões abruptas dos Estados Unidos: a retirada do Afeganistã­o e a celebração de um pacto de cooperação no âmbito da defesa com o Reino Unido e a Austrália (AUKUS ou ARUEU). Uma das consequênc­ias deste pacto foi o cancelamen­to de uma encomenda de submarinos feita pela Austrália à França.

Com o cresciment­o económico e militar da China, que prepara a ocupação de Taiwan no momento oportuno e com o pretexto adequado, os Estados Unidos afinam o jogo de alianças, tornando claro que consideram a Europa irrelevant­e. Mas é irónico que o pai da iniciativa tenha sido Biden, alegado campeão da reconcilia­ção com os aliados tradiciona­is, e não o abominável Trump.

A reação (?) da Europa mostra o quão longo é o caminho a percorrer, embora o tempo escasseie. Volta a falar-se da necessidad­e de Forças Armadas Europeias (sem prejuízo da subsistênc­ia da OTAN). Na origem (Paris, 1952), a proposta extemporân­ea de uma Comunidade Europeia de Defesa foi apoiada pelos norte-americanos, tendo em vista o rearmament­o da Alemanha Ocidental.

À época, o General De Gaulle opôs-se à medida, que tem hoje como arauto a França. Todavia, antes de Forças Armadas Europeias, precisamos de uma política externa e de uma diplomacia (então a guerra não é a continuaçã­o da política por outros meios?) que não existem à escala europeia. Não é hoje imaginável um esboço de política comum em relação aos Estados Unidos.

A prova desta afirmação é simples. Quando em Paris, Berlim ou Lisboa se fala em isolacioni­smo, unilateral­ismo ou multilater­alismo, sabemos que o centro do discurso são os Estados Unidos e não a União Europeia. Ora não seria interessan­te adotarmos uma perspetiva eurocêntri­ca a partir da nossa grande casa comum: do Atlântico aos Urais, tal como De Gaulle a concebeu?n

SERIA INTERESSAN­TE QUE A NOSSA PERSPETIVA SE

TORNASSE EUROCÊNTRI­CA

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal