Sondagens: retratos da realidade e não previsões
Àluz da recente celeuma em torno das sondagens pré-eleitorais para as autárquicas de 2021 – motivando críticas já durante a campanha, com Rui Rio a falar em “vigarice” e em sondagens feitas à medida de quem as encomenda, importa esclarecer alguns aspetos essenciais.
1. Sondagem vs. previsão
As sondagens são retratos da realidade no momento – e não previsões –, incidindo sobre um universo de eleitores, i.e., pessoas em condições de votar.
Para uma sondagem realizada 15 dias antes da eleição coincidir, precisamente, com os resultados desta, seria necessário que todos os inquiridos já tivessem decidido se votam, em quem ou se se abstêm… e o que a experiência demonstra é que a decisão de voto se consolida até ao próprio dia.
2. A clubite partidária
Há muitos anos que a adesão a um partido em nada se assemelha à identificação com um clube de futebol, registando-se, também, um grande desinteresse em relação à política. Contextos que explicam a volatilidade do voto (por vezes imbuído de lógicas negativas: não se vota por alguém, mas contra alguém) e as elevadas taxas de abstenção.
3. A “espiral do silêncio”
Quando existem partidos/candidatos em “clima de opinião negativo”, os seus eleitores/simpatizantes respondem menos às sondagens, entendendo que estas não valorizam suficientemente a importância dos primeiros.
Este fenómeno prejudica os partidos que demonizam as sondagens, pela recusa de participação do seu eleitorado, ficando os partidos em causa subavaliados.
4. A abstenção por certeza de vitória
A principal consequência dos resultados das sondagens é levar os eleitores a não ir às urnas por acharem que o seu partido/candidato já ganhou. O político “inteligente” é aquele que não quer aparecer em primeiro, para não desmobilizar o eleitorado, de modo a ganhar nas urnas. Em grande medida, foi o que aconteceu em Lisboa nestas eleições.
REGISTA-SE, TAMBÉM, UM GRANDE DESINTERESSE EM RELAÇÃO À POLÍTICA
5. As sondagens falham?
Quando as urnas fecham, as projeções, feitas a partir de sondagens, são dadas como realidade – o que prova que estas não falham e que os políticos acreditam nelas. O que as distingue é o seu universo: as primeiras são feitas a votantes, i.e., pessoas que já votaram, e não àqueles que, 15 dias antes, estavam apenas em condições de o fazer. É a acreditar na permeabilidade da decisão de voto que se preparam as campanhas eleitorais e se recorre às sondagens para as nortear.n
O POLÍTICO “INTELIGENTE” É AQUELE QUE NÃO QUER APARECER EM PRIMEIRO