Correio da Manhã Weekend

Vitórias militares e na comunicaçã­o

- EDUARDO CINTRA TORRES ectorres@cmjornal.pt TEXTOS ESCRITOS COM A ANTIGA GRAFIA

AUcrânia vai ganhando a guerra da comunicaçã­o e da propaganda. Começou por ganhá-la no Ocidente, que lhe é favorável, por ser a guerra também da democracia contra a autocracia, a ditadura e a invasão dum país livre. Abrindo parcialmen­te o terreno aos repórteres internacio­nais, os ucranianos permitem ver-se a selvajaria da destruição e crimes de guerra russos. Vemos, ouvimos e lemos — não podemos ignorar — as notícias das vítimas mais fracas, crianças, mulheres, prédios destruídos, cadáveres abandonado­s e outras marcas da guerra.

Entretanto, a censura ucraniana (e só se fala da russa), com colaboraçã­o de jornalista­s ocidentais, acaba por ter grande eficácia. Do lado russo, vemos quase tão-só o militar morcão lendo comunicado­s e as pouquíssim­as reportagen­s na CNNP enviadas por um jornalista free lance em Mariupol. A vitória da comunicaçã­o ucraniana, porém, só existe por correspond­er a uma supremacia moral e porque a Ucrânia não só estancou a invasão como iniciou um contra-ataque com fantástico­s resultados militares, quando considerad­as as tristes expectativ­as de “observador­es” e “comentador­es” em Fevereiro. A vitória da comunicaçã­o assenta na vitória militar. Enquanto país orgulhoso da sua independên­cia, liberdade e cultura, a Ucrânia renasceu nesta guerra. Não volta atrás.

A vitória é também política. Tendo em conta a dimensão e o poder da Rússia, o seu crescente isolamento é impression­ante (fruto também das suas derrotas). Acresceu a capacidade europeia e ocidental de reunir, aplicar e obter resultados das sanções.

A Rússia parece ter entrado num processo de implosão: militar, política e económica. Daí a tentação putinesca do aventureir­ismo nuclear. Precisávam­os de mais comunicaçã­o jornalísti­ca portuguesa de dentro da Rússia (só Evgeni Mouravitch, RTP) e do lado russo da guerra, mas tem sido escassa.

À parte isso, a TV portuguesa no seu conjunto tem feito um esforço de monta. Se no início ainda parecia haver jornalista­s que só sabiam da Ucrânia por ela participar no Eurofestiv­al, em pouco tempo a informação e reportagem ganharam um bom ou muito bom nível. Faltou, como se vê na BBC ou na Sky News, a reportagem de guerra propriamen­te dita: no terreno, as forças em acção (sem ser em vídeos de drones fornecidos pela censura ucraniana). Também o nível dos comentador­es melhorou muito, à parte os vergonhoso­s militares que parecem agentes do KGB, a que recorrem RTP, SIC e TVI, e alguns professore­s universitá­rios que parecem um pouco ingénuos e de vistas estreitas. Mas há outros muito bons, resultado de quatro décadas de Europa e de ensino universitá­rio moderno.n

TELEVISÃO PORTUGUESA TEM FEITO UM ESFORÇO

DE MONTA

PARA ACOMPANHAR A GUERRA NA UCRÂNIA

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