Vitórias militares e na comunicação
AUcrânia vai ganhando a guerra da comunicação e da propaganda. Começou por ganhá-la no Ocidente, que lhe é favorável, por ser a guerra também da democracia contra a autocracia, a ditadura e a invasão dum país livre. Abrindo parcialmente o terreno aos repórteres internacionais, os ucranianos permitem ver-se a selvajaria da destruição e crimes de guerra russos. Vemos, ouvimos e lemos — não podemos ignorar — as notícias das vítimas mais fracas, crianças, mulheres, prédios destruídos, cadáveres abandonados e outras marcas da guerra.
Entretanto, a censura ucraniana (e só se fala da russa), com colaboração de jornalistas ocidentais, acaba por ter grande eficácia. Do lado russo, vemos quase tão-só o militar morcão lendo comunicados e as pouquíssimas reportagens na CNNP enviadas por um jornalista free lance em Mariupol. A vitória da comunicação ucraniana, porém, só existe por corresponder a uma supremacia moral e porque a Ucrânia não só estancou a invasão como iniciou um contra-ataque com fantásticos resultados militares, quando consideradas as tristes expectativas de “observadores” e “comentadores” em Fevereiro. A vitória da comunicação assenta na vitória militar. Enquanto país orgulhoso da sua independência, liberdade e cultura, a Ucrânia renasceu nesta guerra. Não volta atrás.
A vitória é também política. Tendo em conta a dimensão e o poder da Rússia, o seu crescente isolamento é impressionante (fruto também das suas derrotas). Acresceu a capacidade europeia e ocidental de reunir, aplicar e obter resultados das sanções.
A Rússia parece ter entrado num processo de implosão: militar, política e económica. Daí a tentação putinesca do aventureirismo nuclear. Precisávamos de mais comunicação jornalística portuguesa de dentro da Rússia (só Evgeni Mouravitch, RTP) e do lado russo da guerra, mas tem sido escassa.
À parte isso, a TV portuguesa no seu conjunto tem feito um esforço de monta. Se no início ainda parecia haver jornalistas que só sabiam da Ucrânia por ela participar no Eurofestival, em pouco tempo a informação e reportagem ganharam um bom ou muito bom nível. Faltou, como se vê na BBC ou na Sky News, a reportagem de guerra propriamente dita: no terreno, as forças em acção (sem ser em vídeos de drones fornecidos pela censura ucraniana). Também o nível dos comentadores melhorou muito, à parte os vergonhosos militares que parecem agentes do KGB, a que recorrem RTP, SIC e TVI, e alguns professores universitários que parecem um pouco ingénuos e de vistas estreitas. Mas há outros muito bons, resultado de quatro décadas de Europa e de ensino universitário moderno.n
TELEVISÃO PORTUGUESA TEM FEITO UM ESFORÇO
DE MONTA
PARA ACOMPANHAR A GUERRA NA UCRÂNIA