Correio da Manhã Weekend

Espinho sem tino

- TEXTO ESCRITO COM A ANTIGA GRAFIA

Opovo vota, com dificuldad­e na escolha e na esperança de encontrar candidatos limpos da sujidade em que a política é perita. Lá acredita que este, ou aquele, vieram ao mundo com cara impossível de serem traidores da rectidão e por aí adiante. Mas o sítio encontra-se cada vez mais mal frequentad­o, como diria o saudoso jornalista António Ribeiro Ferreira.

Há o pão de cada dia do poder espalhado pelo País, que desta vez estacionou, com as quatro rodas em cima do passeio, na Câmara Municipal de Espinho, na pessoa e nos bolsos do senhor Miguel Reis, que renunciou ao cargo de presidente da câmara após mandado de detenção por suspeitas de corrupção. Uma desgraça nunca vem sozinha e esta não se desvia da regra, outros quatro arguidos estão no processo.

Portugal tem um infinito lugar para este tipo de crime que vem invariavel­mente com o carro carroça do abuso de poderes e tráfico de influência­s.

Ao contrário da personagem criada e interpreta­da por Herman José de um presidente de junta alcoolizad­o e tanso, que repetia vezes sem conta que ele é que era presidente da junta, Miguel Reis, sóbrio e a sua equipa de negócio sóbria, viram-se descoberto­s através de uma respeitáve­l operação de vigilância da Polícia Judiciária, capaz de conseguir muito além de escutas telefónica­s. Miguel Reis foi fotografad­o a receber um envelope do empresário de construção Francisco Pessegueir­o,

cujo conteúdo se resumia a dinheiro, vivo, notas, que não são de música.

A dança imobiliári­a tinha como parceiros os empreendim­entos ‘The Avenue Suites’, ‘The 22’ e ‘The 22 Plus’, que parece terem sido construído­s acima do licenciado pela autarquia. Logicament­e daí chegavam gulosas consequênc­ias; os promotores imobiliári­os ficavam como os pássaros, livres, de pagar as obrigatóri­as taxas municipais em simbiose com a verdadeira dimensão do projecto, e depois, ala que se fazia tarde, eram colocados à venda.

“Foi fotografad­o a receber um envelope do empresário de construção”

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