Um pequeno peixe vermelho
Vivemos num longo e complexo ciclo de cerco digital, assunto tratado de forma muito criativa por Tom Hanks no filme ‘Otto’, de que é o actor principal e também produtor, sendo previsível que esta obra venha a ser distinguida com um ‘óscar’ da Academia porque representa a abordagem de um drama que envolve o envelhecimento e o cansaço numa sociedade muito pouco interessada em saber o que existe para além das mensagens que durante nove segundos ocupam a atenção de um pequeno peixe vermelho e também a nossa.
A questão central com que se debatem as grandes empresas de comunicação reside na capacidade que tentam ter de captar os olhares de uma geração “distraída da distracção pela distracção”.
O pequeno peixe vermelho, eternamente às voltas no seu aquário, não se queixa do périplo, não tendo a capacidade que o leve a ultrapassar os nove segundos de atenção.
Ultrapassado esse limite temporal, o peixe fica desatento e o ser humano, numa outra escala, também passa adiante e vai à sua vida.
Ainda agora vimos, com a cobertura do processo de ocupação dos centros de poder em Brasília, como o excesso de informação nos integra e nos exclui, já que aquilo que está ser transmitido é imediatamente subalternizado pelas incessantes mensagens telegráficas no rodapé do televisor.
Um credível estudo científico estima em 30 minutos o tempo máximo de exposição às redes sociais sem que a saúde mental seja afectada.
Como afirma Bruno Patino no livro ‘A Civilização do Peixe Vermelho’ (Gradiva), “os novos impérios construíram um modelo de servidão digital voluntária, mas com uma determinação implacável”. É com esta realidade que lidamos e com este espartilho que temos de ver o que nos cerca e a complexidade das mensagens que quase nos sufocam.
“O ser humano, numa outra escala, também passa adiante e vai à sua vida”