Uma profissão (mesmo muito) envelhecida
Se há alguns anos havia professores de sobra, agora há professores a menos em Portugal. O número de professores que se reformam mensalmente no País não para de bater recordes, segundo dados da Caixa Geral de Aposentações (CGA). Em setembro do ano passado reformaram-se 257 docentes, em outubro 280 e, em dezembro, cerca de 300. Em 2023 é esperado que passem à reforma 3500 professores e educadores de infância. É preciso recuar a 2013 para encontrar números tão altos de professores a deixar a profissão por reforma.
“Os jovens já perceberam que esta é uma profissão muito exigente, que está mui- to desvalorizada e por isso não querem ser professores. Não é uma carreira atrativa”, acredita António Morais. com perspetiva de carreira e regalias que nós não temos”.
“Comecei a trabalhar em 2001, vinculei em 2004, foi rápido, só que quando era para mudar para o 2º escalão houve uma reestruturação da carreira e eu passei para uma alínea A (nem sequer no primeiro escalão entrei). Depois esperei uns anos para entrar para o primeiro escalão e voltei a ser ‘congelada’. Voltava sempre à estaca zero. E depois houve uma ultrapassagem: todos os docentes que vincularam desde 2011 foram reposicionados no escalão a que pertenciam. Colegas que vincularam muito depois de mim já me ultrapassaram todos no escalão, porque não sofreram o congelamento que eu sofri”, lembra Cátia Domingues. Ainda assim, agradece ser da zona da Grande Lisboa e, por isso, ter conseguido entrar nos quadros sem grande esforço, ao contrário dos professores do Norte, que não têm colocação. “Temos agora uma professora contratada cujo marido e o filho de 12 anos ficaram no Norte e ela veio para Lisboa com a filha de 6 anos. Ela está cá e o marido está lá, pagam duas casas. E um contratado nunca sai do primeiro escalão, seja contratado cinco anos seja 20. Por isso recebe sempre a mesma coisa, à volta de 1100 euros se tiver horário completo.”
Reforma e quotas
Já João Paulo Dupont, de 63 anos, está a “três anos e meio da reforma”, mas só agora é que conseguiu passar para o 7º escalão, onde recebe 1510 euros. “É uma vergonha para mim, o meu filho trabalha há três anos como advogado e ganha quase o dobro. Mesmo que suba de escalão, a reforma
“O esforço dos professores durante a pandemia ficou bem demonstrado, ninguém nos formou para isso” Carlos Leal
vai ser equivalente ao 6º escalão, que foi onde estive mais tempo”, desabafa o docente que se licenciou em Arquitetura, mas depois veio a fazer a profissionalização no ensino para poder continuar a dar aulas. Critica as quotas de acesso ao 5º e ao 7º escalões e lembra que, na pandemia, “os professores fizeram das tripas coração para dar aulas à distância. Não tínhamos o software necessário, a maior parte comprou computadores do
“Nas reestruturações da carreira voltava sempre à estaca zero” Cátia Domingues