Éticas e baldrocas

José é um jovem com pretensões a cargo político. Cultura de badana, licenciado, origens no Interior rural, esperto que nem alho. O pai, ex-autarca com teres e haveres, sempre o aconselhou a não pôr “todos os ovos no mesmo saco”. Como quem diz, “eu sou PS, mas nada te impede de fazeres carreira no PSD”. À custa de tanto se falar agora na Ética Republicana, ficou meio baralhado. Disserta-se sobre a ética por tudo e por nada – a ética desportiva, a ética empresarial, a ética disto e daquilo. Como se a ética não fosse simplesmente “A Ética”. A ética, para os puristas, passa simplesmente pela consciência. A consciência de uma pessoa honesta é mais exigente do que a Lei. Nenhuma lei interdita em absoluto a desonestidade, a sacanagem, a corrupção. Teófilo Braga, democrata e Presidente na Primeira República, quis introduzir Moral na dita Ética Republicana e concebeu uma mistura de Ética com Política. Já ninguém se lembra.

José medita nas 36 perguntas engendradas pelo Governo PS, no já chamado “mecanismo de filtrar políticos”. E

“O já chamado mecanismo de filtrar políticos…”

foi dar à frase célebre da personagem Tancredi, sobrinho do Príncipe de Salina, na obra ‘O Leopardo’, do escritor italiano Tomasi de Lampedusa. A frase, muito usada pelos políticos, é (quase) sempre citada erroneamente: “É preciso que mude alguma coisa, para que tudo fique na mesma!” Tancredi, meio arruinado, tenta convencer o tio fidalgo a abandonar a sua lealdade aos Bourbons do Reino das Duas Sicílias para se aliar aos Saboia. Mas a frase original é mais hipócrita e radical: “Para que tudo fique na mesma, é preciso que TUDO mude!” E logo acrescenta: “A não ser que nos salvemos, dando-nos as mãos agora, eles nos submeterão à República!”

José já aconselhou o pai. “Pai! Tem que mudar para o PSD!” Porquê? “Porque, para que tudo fique na mesma para nós, é preciso mudar tudo! Até as preferências partidárias!”