A vida de Luiz Pacheco
Conheci o escritor Luiz Pacheco no início da década de setenta,
quando ele visitava as redacções dos jornais em que eu trabalhava, nomeadamente o ‘Diário de Lisboa’ e o ‘República’, manifestando sempre o desejo de vender coisas que trazia consigo, desde canivetes a exemplares de livros que editara com a chancela da Contraponto, editora que criou. Ia habitualmente acompanhado pelo filho Paulo, que ele, numa encenada pirueta dramática, dizia que queria vender, tendo como interlocutores nesse diálogo inventado figuras como o encenador Artur Ramos, comunista e homem solidário, e bem sabia que Pacheco perseguia sem escrúpulos contemporâneos de qualidade como Urbano Tavares Rodrigues, que só por complacência evitava chegar com ele a vias de facto.
Convivi com ele nessa época, conhecendo bem a índole e a argumentação de Pacheco e tentando sempre dar desconto às alucinantes histórias que contava.
Mais tarde, já na fase final da sua vida, encontrei-o na Avenida da Liberdade, perto do Centro Vitória do PCP e ele, aproximando-se de mim, fez-me uma revelação inesperada: “Sabes, inscrevi-me no PCP, porque eles gostam de mim e até me vão ajudar a arranjar casa onde possa dormir e escrever.” Tive de acreditar, até porque ele fez questão de me mostrar o cartão do partido.
Poucos anos antes, mais ou menos na mesma zona, fez-me idêntica revelação o poeta Herberto Helder, que eu muito admirava.
Quando morreu, em Janeiro de 2008, lembrei-me de que nunca o entrevistei, também devido à resistência dos meus editores, que conheciam bem a massa de que aquele pão era feito.
A biografia agora publicada, com autoria de António Cândido Franco e com a chancela da Quetzal, é um trabalho exemplareapelativo para leitores de várias gerações. Aplauso para o autor e para o biografado.
Olivro `A Teia do Banif – Dos Negócios da Elite Angola- na à Lava Jato'
(ed. Casa das Letras), que chegou esta semana às livrarias, em 300 páginas cheias de documentos inéditos (in- cluindo escutas telefónicas e e-mails confidenciais) e registando os nomes de muitos dos intervenientes, revela “os planos secretos de um banco maldito”.
Como começou este inte- resse pelo Banif?
Desde a queixa-crime apresentada, em 2008, pelo Governo de Angola à Procuradoria-Geral da República de Portugal para tentar recuperar o dinheiro de uma alegada burla com ações do Banif, em que teria desaparecido um montante entre 100 e 170 milhões de euros. Os ango- lanos teriam disponibiliza- do verbas a intermediários portugueses para en- trarem no capital do ban- co, mas esses ‘testas de fer- ro’ não terão concretizado o negócio. Altos quadros do regime, incluindo o governador do Banco Nacional de Angola, vêm, então, a Lisboa para prestar declarações às autoridades portuguesas, tentando conseguir a devolução do dinheiro. O Ministério Público quebra o sigilo bancário e descobre um conjunto de negócios estranhos. Entretanto, o executivo de Luanda rapidamenteestabeleceu com os interlocutores iniciais um acordo confidencial (a que tive acesso), concorda ser res
“Entre 2005 e 2015, só por cinco contas principais, terão passado 1,4 mil milhões de euros para pagamentos alegadamente corruptos”