Los três porquitos
Portugal nos anos 70, pós-revolução, andou para as cidades à procura de melhores condições de vida. Cresceu a urbe no litoral, desordeira, em blocos de má arquitetura, loteamentos clandestinos e finalmente, empréstimos bonificados, a forma como o Estado ajudou ao sonho da casa própria. Boa parte dos blocos de prédios, de traça monocórdica, construídos por empreiteiros com mau gosto, ainda hoje persiste em boa parte das cidades portuguesas de norte a sul do País. Quem lá vive é essa geração jovem adulta em 1974, cheia de sonhos e calças à boca de sino, que agora se conforma com a cadência com que estreiam ‘reality shows’ e telenovelas. Os seus filhos e netos também são aqueles que perduram ou regressam à casa dos pais, depois do divórcio. Já que somos um dos países europeus com menos filhos e mais separações, que isso dê à vida ‘low-cost’ uma versão ‘light’ de haveres - sempre é mais fácil de transportar.
É preciso que se diga que os investidores estrangeiros, os aposentados estrangeiros, as famílias endinheiradas estrangeiras contribuem para o desnorte e a cobiça dos que têm algo de seu para vender ou arrendar. Qualquer coisa a menos de 25 quilómetros da costa atira-se para um milhão, nem que seja um pardieiro, e uma marquise em Lisboa diz que é um loft de 1200 euros por mês. Garantimos que o aumento das distâncias entre casa e trabalho não contribui para a diminuição das emissões de carbono nem para a felicidade. Apostamos que é agora um hotel o lar onde viveu no Príncipe Real o estroina do Luiz Pacheco. Já não se conta às crianças a versão da ‘Fábula dos três porquinhos’ em que o que construiu um T2 de tijolo resiste ao bafo da especulação imobiliária.
É também por tudo isto que é um insulto o custo do altar da Jornada Mundial da Juventude, adjudicado por ajuste direto à construtora que mais emprega políticos em Portugal - além de nos fazer parecer um país sul-americano.
“O que construiu um T2 de tijolo resiste ao bafo da especulação”