Tristes milhões
Mandam apertar o furo do cinto. Avisam com verbos agudos para termos cuidado e cabeça com gastos e despesas e para nos deixarmos de extras e afins. A guerra de Putin trouxe mortos e trouxe crise. Sobem ao ritmo do balão da Manuela Bravo, os preços. Nos supermercados, nas bombas de gasolina, nos livros escolares, a electricidade pela hora da morte de tantos que não carregam no botão do aquecedor para não terem uma conta incompatível com o salário.
Só o ar, por enquanto, se mantém de graça. E nunca se sabe. Considerar natural despender 5 milhões de euros num palco-altar equivale a estar desinteressado do problema dos outros. Acabar com o sofrimento é assunto que aparece tradicionalmente na baila em dias eleitorais. Todos, sem excepção, garantem debelar esse mal e dão a certeza, aliás mais, dão a palavra de honra que se colocam na pele do sofredor. É, é.
Os políticos, sentados nos lugares de poder, esquecem com regularidade as promessas e os compromissos. Às vezes, parece que, nessa cadeira, se transformam noutras vidas. Quando se avizi
“Sem ou com pala, são números vindos do hospício”
nham as seguintes corridas de votos retomam a postura angélica e justiceira.
A Câmara Municipal de Lisboa adjudicou por ajuste directo a construção desse palco-altar da Jornada Mundial da Juventude de Lisboa. José Sá Fernandes, nomeado pelo Governo para coordenar o grupo de projecto dessas JMJ, receberá na totalidade 210 mil euros por essa difícil tarefa, veio sepultar, com a pá do serviço, Carlos Moedas, dizendo que sabia da existência de opções mais económicas, mas a decisão da Câmara Municipal de Lisboa de aumentar a pala do altar-palco engrossou 2 milhões. Portanto de 3 milhões passou a 5 milhões. Tanto faz na contabilidade. Sem ou com pala para safar os olhos do sol, são números vindos do hospício. Deus do céu. Senhor do mundo. O que dirá o Papa Francisco sobre a fortuna esbanjada, ele que foi pioneiro no Vaticano a varrer dali para fora a ostentação?