Animais ideológicos
Livros como `O Macaco Nu' transformaram Desmond Morris num naturalista mundialmente famoso.
Um livro como ‘O Tempo dos Animais’ (Pub. Europa-América) é um bom exemplo desse talento e capacidade, que nos permite também descobrir, num mundo globalizado, que existem animais ideológicos. Morris conta-nos uma história que ilustra e confirma esta afirmação.
Houve um tempo em que, por causa de um casal de pandas e da sua sexualidade, os russos pensaram que Desmond Morris era um espião. Ele foi à Rússia para assistir ao acasalamento de dois pandas gigantes, sendo a fêmea de Londres e o macho de Moscovo.
O problema dos pandas surgiu em dezembro de 1957, quando um grupo de chineses que apanhava animais com armadilhas capturou nas florestas de Szechuan uma panda gigante, que foi prontamente levada para o Jardim Zoológico de Pequim. Os chineses baptizaram-na com o nome simpático de Chi-Chi. Acreditando que ficavam a ganhar recebendo como compensação um rinoceronte, duas zebras e um hipopótamo, aceitaram enviar a panda para os Estados Unidos. Contudo, John Foster Dulles declarou o pobre animal “mercadoria comunista” e proibiu a sua entrada no país. Foi então decidido, perante esta proibição, que deveria ser montada uma exposição que permitia levar Chi-Chi aos zoos de Londres e Copenhaga. Londres, para evitar essa itinerância perniciosa, decidiu comprar a panda, que gostava de ser vedeta e vira o seu peso aumentar de 55 para 104 quilos. Tornado conservador do Zoo de Londres, Desmond Morris tentou na prática criar uma agência de casamentos que lhe permitisse casar Chi-Chi. E foi nessa condição que visitou a Rússia e ficou sob a lente russa, num tempo de grandes investigações dos serviços secretos.
“John Foster Dulles declarou o pobre animal `mercadoria comunista'”