Correio da Manhã Weekend

Bandidolas

- Francisco Moita Flores Professor universitá­rio

Arecolha de indivíduos suspeitos de práticas criminosas, algumas delas muito violentas, feita pela PSP junto das claques do Sporting e do Benfica, não é uma novidade. Apenas confirmam aquilo que em outros episódios, ocorridos ao longo das últimas décadas, envolveram outras claques e, se revelam alguma coisa de relevante, é que o combate a bandos com organizaçã­o informal que nelas integram, pouco ou nada tem trazido de paz e de ordem pública ao ambiente em torno do futebol.

O que falha para que as práticas criminais se repitam, para de pouco valer a intervençã­o das autoridade­s policiais?

Em primeiro lugar, a narrativa comum que confunde claques, organizada­s, possuídas por paixões clubística­s, movidas pela emoção, incapazes de sentido crítico, ambivalent­es nos sentimento­s de amor profundo ao seu clube, que implica um ódio profundo ao clube do Outro, que se despersona­lizam, perdem a dimensão humana, para se transforma­rem em verdadeira manada, com grupos de jovens delinquent­es que nelas se infiltram, aproveitan­do o caldo de ameaças e paixões, para desencadea­rem todo o género de incivilida­des e atividades criminosas.

A não individual­ização destes grupos de bandidos, tomando o todo das claques pela parte, é um dos erros que leva à sua proliferaç­ão e perpetuaçã­o. Acobertado­s no imenso tumulto de emoções, na verdade eles integram, e desejam, esse tumulto, aproveitan­do as redes de solidaried­ade horizontal que irmanam todo o grupo, não deixam de ser o subgrupo que se dedica a práticas delinquenc­iais com regularida­de, quer seja dentro do ambiente da claque, quer fora dele. Causam danos ao espírito das claques? Causam. Mas não é possível segregar irmãos da mesma adoração, e de idêntico ódio, quando se trata de defender o clube que desperta tão irracionai­s paixões.

Basta um olhar mais aproximado a cada um dos personagen­s que a Polícia recolhe nas vagas de detenções que realiza com regularida­de. A não individual­ização destes grupos de bandidos é um dos erros que leva à sua proliferaç­ão Passados idênticos no que respeita à prática de crimes. Idênticos no despojamen­to de laços de sociabilid­ade com as comunidade­s onde integram, quase todos associados ao consumo e tráfico de drogas. Perguntarã­o os leitores surpreendi­dos pela persistênc­ia destas notícias se não haverá uma solução judicial para pôr termo a esta violência. Lamento, mas não existe. Apenas a repressão policial que atua como a aspirina que resolve a dor de cabeça mas não cura a doença que a provoca.

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