Bandidolas
Arecolha de indivíduos suspeitos de práticas criminosas, algumas delas muito violentas, feita pela PSP junto das claques do Sporting e do Benfica, não é uma novidade. Apenas confirmam aquilo que em outros episódios, ocorridos ao longo das últimas décadas, envolveram outras claques e, se revelam alguma coisa de relevante, é que o combate a bandos com organização informal que nelas integram, pouco ou nada tem trazido de paz e de ordem pública ao ambiente em torno do futebol.
O que falha para que as práticas criminais se repitam, para de pouco valer a intervenção das autoridades policiais?
Em primeiro lugar, a narrativa comum que confunde claques, organizadas, possuídas por paixões clubísticas, movidas pela emoção, incapazes de sentido crítico, ambivalentes nos sentimentos de amor profundo ao seu clube, que implica um ódio profundo ao clube do Outro, que se despersonalizam, perdem a dimensão humana, para se transformarem em verdadeira manada, com grupos de jovens delinquentes que nelas se infiltram, aproveitando o caldo de ameaças e paixões, para desencadearem todo o género de incivilidades e atividades criminosas.
A não individualização destes grupos de bandidos, tomando o todo das claques pela parte, é um dos erros que leva à sua proliferação e perpetuação. Acobertados no imenso tumulto de emoções, na verdade eles integram, e desejam, esse tumulto, aproveitando as redes de solidariedade horizontal que irmanam todo o grupo, não deixam de ser o subgrupo que se dedica a práticas delinquenciais com regularidade, quer seja dentro do ambiente da claque, quer fora dele. Causam danos ao espírito das claques? Causam. Mas não é possível segregar irmãos da mesma adoração, e de idêntico ódio, quando se trata de defender o clube que desperta tão irracionais paixões.
Basta um olhar mais aproximado a cada um dos personagens que a Polícia recolhe nas vagas de detenções que realiza com regularidade. A não individualização destes grupos de bandidos é um dos erros que leva à sua proliferação Passados idênticos no que respeita à prática de crimes. Idênticos no despojamento de laços de sociabilidade com as comunidades onde integram, quase todos associados ao consumo e tráfico de drogas. Perguntarão os leitores surpreendidos pela persistência destas notícias se não haverá uma solução judicial para pôr termo a esta violência. Lamento, mas não existe. Apenas a repressão policial que atua como a aspirina que resolve a dor de cabeça mas não cura a doença que a provoca.