A lógica das sondagens
Os indecisos têm a vitória nas mãos nas próximas legislativas. Segundo as sondagens, 17% dos eleitores não se descosem. No inédito ano eleitoral 2024 – Legislativas, Regionais nos Açores e Europeias – as empresas de sondagens, ainda que baralhadas, hão-de fazer belíssimo negócio. Vai ser um fartote de idas, voltas e meias voltas às urnas. Mas o povo anda indeciso. Imaginam-se as contas, trocas e baldrocas que os partidos andam a fazer. É preciso arriscar. Mas como, em quê, em quem? Nada é como antigamente. Já não há fiéis indefectíveis. Muitos fazem contas de cabeça – os pensionistas, funcionários públicos, os jovens e os que não têm nada a perder.
Há uns anos, José, presidente de pequena Junta de Freguesia transmontana, foi novamente candidato às autárquicas. Contabilizou os votos certos, os contra e os indecisos. Sem sondagens “científicas” à mão, fez as suas contas! Assim: dos 140 eleitores, abstencionistas seriam uns 60 – os velhos, fazia frio, e os emigrantes. Nada de novo! Dos habituais votantes, metade repartiam-se por vários partidos, que não o dele. José andou porta a porta a convencer e a comprar votos. “Nunca falha!” Contas feitas, as coisas andavam ela por ela. Prevê uma vitória por pequena margem. “Perder não perco!” No papo, entendeu que estava a família chegada mulher, três filhos, netos, irmãos, cunhados e até sobrinhos. Por junto, uns 30 votos seguros. Haveria uns 20% de indecisos. Apostou forte em 40 conterrâneos de palavra, com as promessas do costume. “Isto está ganho!” Esqueceu-se José de recente discussão de escacha-pessegueiro com a neta, pegada de amores pelo filho do concorrente directo. E não é que José perde as eleições por um voto, um único voto? Remói a derrota e chega a uma conclusão. “Ai a cabra da minha neta que me traiu!” É no que dão as sondagens.
“Imaginam-se as contas, trocas e baldrocas dos partidos”