CLAVE TELEVISIVA
COM UM PRAZER ASSIM, DISPENSA-SE , INCLUSIVAMENTE, A CHAVE PARA ESCANCARAR O PILAR DA INTIMIDADE
Tem dias que só me apetece abrir a porta da rua. Tudo o resto, e que se entenda o importante, que fique fechado, não para obras, evidentemente, tão pouco para balanço. Cerrada, como dizem, e bem, os espanhóis, apenas aberta para ver boas paisagens humanas. Assim, na semana passada, decidi que não haveria nada para ninguém. A ideia era não ter havido, mas houve. O corpo feminino é pior do que o masculino. Dizem eles, os homens, que não são de ferro, e eu digo que nós mulheres partimos o ferro quando o calor sobe da anca até à boca, depois de o braseiro incendiar o meio do corpo. Há o preconceito de que bons amantes são doutores, engenheiros, economistas, dentistas, alguém com licenciatura, automaticamente, é promovido a um irresistível sexual. Nem sempre, nem sempre. Conheço casos, e até de gente com idade para fazer inveja à parede, que se despista com frequência.
Não sei porquê, advogados, há, alguns, coitados, Deus os ajude; já me apeteceu dar-lhes esmola. Na barra do tribunal podem ser duros, mas, aqui, comigo, já encontrei molas fraquinhas. No período que me pareceu melhor estender-me sozinha, a televisão avariou. Acontece. Veio quem entende. Num instante, o ecrã funciona, tudo funciona, até eu comecei a funcionar. Mãos grandes que chegam ao pequeno botão sem tocar nos outros. Dedos perfeitos para tirar, e pôr, o devido material. Pernas que lembram escadotes fortes, ficam firmes sem apoio, não fraquejam. É uma obrigação dar-lhe de beber. Não é água da garrafa, água da minha fonte. Difícil manter a palavra de estar de papo para o ar trancada. Com um prazer assim, dispensa-se, inclusivamente, a chave para escancarar o pilar da intimidade. Só de o ver a mexer um rio desatou a correr. Percebeu, o técnico não vive no mundo dos tolos. Tirou-me a sede como se estivesse a inspecionar um plasma gigante.