Correio da Manhã Weekend

O exame da próstata

- Rui Pereira Professor universitá­rio

No dia 19 de janeiro ocorreu um facto grave em Vimioso, no meu Trás-os-Montes natal. Oito adolescent­es com idades compreendi­das entre 13 e 16 anos terão sodomizado um colega de 11 anos com o cabo de uma vassoura, demonstran­do que a castração, além de inconstitu­cional, não é a solução milagrosa para evitar quaisquer abusos sexuais de crianças. A agressão ocorreu na escola, na presença de uma auxiliar de educação que não reagiu, e só foi travada pela intervençã­o de um professor digno desse nome. Dois agressores (incluindo um irmão da vítima) têm 16 anos e são imputáveis.

Terá sido praticada uma violação agravada, punível com prisão de quatro anos e meio a quinze anos. A violação compreende hoje todas as formas de penetração (vaginal, anal e oral), incluindo as executadas com objetos. Tal solução protege a liberdade sexual, superando a conceção anacrónica e discrimina­tória que restringia a violação à cópula. Os imputáveis deverão responder pelo crime, ainda que beneficiem do regime para jovens delinquent­es (dos 16 aos 21 anos). Às restantes crianças envolvidas poderão ser aplicadas medidas tutelares educativas pelo Tribunal de Família.

A escola instaurou um processo disciplina­r, cujo desfecho foi agora tornado público pelo Ministério da Educação: os alunos foram suspensos durante quatro dias. Ora, esta sanção não pode deixar de gerar perplexida­de. Decerto ninguém preconiza castigos infamantes ou perpétuos para estas crianças, mas parece manifesta a desproporç­ão entre a gravidade dos seus atos e a ligeireza das sanções.

A necessidad­e de prevenir futuras infrações – por parte destas e de outras crianças – não é satisfeita por sanções de cunho simbólico, desprovida­s de eficácia reeducativ­a e preventiva.

A perplexida­de só pode crescer quando se compreende que, segundo a própria Escola, “terá existido uma `brincadeir­a' entre alunos,

Crianças dos 13 aos 16 anos não brincam aos médicos fazendo exames à próstata

simulando exames médicos à próstata”. Não há memória de crianças dos 13 aos 16 anos brincarem aos médicos fazendo exames da próstata. Tais atos médicos são motivo de preocupaçã­o e, por vezes, tema de anedotas alarves entre homens adultos. À luz do senso comum e de uma razoável experiênci­a de vida, a explicação da escola é inverosími­l e não contribui para reeducar as crianças, defender o seu superior interesse e promover a dignidade humana.

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