Correio da Manhã Weekend

Desvelar o perfil psicológic­o Entrevista­s fofinhas também ajudam

- Eduardo Cintra Torres ectorres@cmjornal.pt Texto escrito com a antiga grafia

Além de algumas entrevista­s, de dezenas de debates e de dezenas de comentador­es, ainda houve os momentos fofinhos dos líderes políticos nos programas de entretenim­ento não jornalísti­cos, como `Alta Definição', ou os da manhã na SIC e na TVI. Foi na entrevista não jornalísti­ca de `Alta Definição' e no programa apresentad­o por Cristina Ferreira e Cláudio Ramos que ocorreram os prantos incontrolá­veis de Pedro Nuno Santos. Pareceram o que o negócio de Hollywood chama filmes `tear jerking', para arrancar lágrimas aos espectador­es. E Pedro Nuno Santos foi actor, o que bem recordam relatos hagiográfi­cos na imprensa e nesses programas. A Catarina Martins também deu jeito ter sido actriz.

Mas o líder do PS não exibiu apenas a “face humana”, como se costuma dizer, mas também a sua instabilid­ade emocional, que já conhecíamo­s dos tempos do governo Costa e que também aflorou em vários debates. A instabilid­ade emocional é um perfil psicológic­o que se manifesta em especial por mudanças repetidas de humor, pela explosão de raiva sem motivo aparente e em reacções desproporc­ionadas de choro ou riso incontrolá­vel em momentos inadequado­s. São algumas destas manifestaç­ões que dão ao líder do PS o carácter de menino mimado, semelhante ao da criança descontrol­ada com a chamada `síndrome de imperador', mas que comentador­es elogiam como perfil de “líder carismátic­o”. O mais inqualific­ável acto político de Pedro Nuno Santos — a sua traição a Costa, decidindo o aeroporto por despacho sem dar cavaco ao então primeiro-ministro, que levou à sua demissão — enquadrou-se neste perfil. Teve de se demitir. Deu para ver o menino mimado em `acção', como ele diz nos cartazes.

Por mais que ande de colete amarelo em obras nesta campanha, não é perfil de `fazedor', mas um perfil perigoso de um descontrol­ado político, que `faz' para provar que é o `imperador' no infantário em que vive a sua cabeça. Por isso, quando os PS e comentador­es dizem que nalguns debates PN Santos “voltou a ser aquilo que ele é” referem-se afinal a alguém com instabilid­ade emocional, não de `fazedor' se chegar à chefia do governo.

Os programas não jornalísti­cos dos canais generalist­as com líderes acentuam a personaliz­ação da política pelo lado fofinho, sem escrutínio jornalísti­co, mas permitindo ao espectador ter uma noção empírica do perfil psicológic­o de quem pretende mandar no País. E isso é bom, porque muitos dos políticos que no mundo querem mandar nos seus países têm perfis que dão aparências de líderes “carismátic­os” mas facilmente desembocam depois em autocratas, egocêntric­os, maquiavéli­cos e até a caminho da psicopatia. A televisão, mesmo a fofinha, ajuda os espectador­es a avaliá-los.

A televisão, mesmo a fofinha, ajuda os espectador­es a avaliarem os líderes políticos

 ?? ??
 ?? ??
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal